Declaração ocorreu em depoimento ao STF
Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou que a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) levou o hacker Walter Delgatti Neto para ter uma reunião com ele no Palácio da Alvorada a fim de discutir a segurança das urnas eletrônicas. O ex-chefe do Executivo, contudo, disse que não sentiu confiança em Delgatti e o encaminhou ao Ministério da Defesa.
– Carla Zambelli levou o hacker, e eu recebi. Não entendo nada de informática, não senti confiança nele, e como de praxe, de acordo com o ministério, eu encaminhei o hacker para a Comissão de Transparência Eleitoral e nunca mais tive contato com ele – afirmou Bolsonaro ao ministro Alexandre de Moraes.
Questionado pelo magistrado se teve algum retorno do até então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e da própria Zambelli, o líder conservador negou, dizendo que sequer sabe se Delgatti foi recebido pelo chefe da pasta.
A fala de Bolsonaro ocorre um dia após o tenente-coronel Mauro Cid dizer, também em depoimento ao STF, que Zambelli agendou uma reunião entre Bolsonaro e Delgatti. Segundo o ex-ajudante de ordens, a intenção era obter um ponto de vista técnico sobre se havia a possibilidade de as urnas serem adulteradas, e como identificar uma eventual fraude.
Cid relatou que Bolsonaro pediu que o ministro Paulo Sérgio recebesse os dois, e que a reunião chegou a acontecer na sede do Ministério da Defesa. Ele afirma, contudo, não saber dizer se o ministro estava presente. Também declarou que, após estudos, não foi possível identificar sinais de fraude nas eleições de 2022.
ITÁLIA
Zambelli está na Itália, e é considerada foragida. A deputada foi condenada pela Primeira Turma do STF a dez anos de prisão em regime inicial fechado e multa no valor de 2 mil salários mínimos, por invasão aos sistemas do CNJ e falsidade ideológica.
Segundo a Corte, a parlamentar teria mandado o hacker Walter Delgatti Neto invadir sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a fim de adulterar documentos, alvarás de soltura, quebras de sigilo bancários e emitir um mandado de prisão contra Moraes. Zambelli nega as acusações.
A deputada ainda é alvo de outro inquérito no STF, no qual é acusada de porte legal de arma de fogo e constrangimento ilegal. O julgamento foi suspenso pelo ministro Nunes Marques, que pediu mais tempo de análise, em março.
A congressista disse à jornalista Andreia Sadi, do G1, que se apresentará às autoridades italianas tão logo o Ministério da Justiça brasileiro peça a sua extradição. Caso a solicitação do governo seja aceita, ela solicitará para cumprir pena na Itália.