Um tribunal italiano autorizou na terça-feira (16/9) a extradição para a Alemanha de Serhii Kuznietsov, um ucraniano preso no mês anterior sob suspeita de envolvimento nas explosões dos gasodutos submarinos Nord Stream que conectavam a Rússia à Alemanha através do Mar Báltico.
A sabotagem aconteceu em setembro de 2022, meses após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Serhii Kuznietsov, 49 anos, foi detido na Itália após a emissão de um mandado de prisão europeu pela Alemanha. A prisão ocorreu enquanto ele estava em férias com a família em um acampamento próximo à cidade costeira de Rimini, no Mar Adriático.
O advogado de Kuznietsov, Nicola Canestrini, anunciou que recorrerá da decisão do tribunal de apelações de Bolonha perante a Corte Suprema de Cassação da Itália. Enquanto aguarda o julgamento da instância superior, a transferência para a Alemanha está suspensa, o que deverá ocorrer em cerca de um mês.
Kuznietsov é acusado de integrar um grupo responsável por colocar explosivos nos gasodutos submarinos em 2022, embora alegue que atuava como capitão das Forças Armadas ucranianas na época.
Se condenado na Alemanha, ele pode ser sentenciado a até 15 anos de prisão.
Investigadores alemães identificaram um grupo ucraniano formado por cinco homens e uma mulher como autores da sabotagem. Acusações afirmam que Kuznietsov usou documentos falsos para alugar um iate que zarpou da cidade alemã de Rostock e realizou os ataques.
Nicola Canestrini destacou a importância dos direitos fundamentais no processo, incluindo o julgamento justo e condições adequadas de detenção, e criticou a negação do direito de seu cliente de comparecer pessoalmente à audiência de extradição e a falta de documentos completos da Alemanha. Kuznietsov nega envolvimento nas explosões.
Acusações afirmam que Kuznietsov organizou a detonação de ao menos quatro bombas com peso entre 14 e 27 quilos, a profundidades de 70 a 80 metros nas proximidades da ilha dinamarquesa de Bornholm, no Mar Báltico, em 26 de setembro de 2022.
A defesa argumenta que os gasodutos poderiam ser considerados alvos militares legítimos em tempos de guerra, e que Kuznietsov, como soldado cumprindo ordens, não deveria ser responsabilizado criminalmente pelo episódio.
O tribunal de apelações italiano rejeitou o argumento de imunidade funcional apresentado pela defesa, afirmando que o pedido de extradição não reconhecia papel militar de Kuznietsov e que o atentado ocorreu fora da zona de operações do conflito.
A investigação alemã encontrou evidências de explosivos em um veleiro inspecionado, e relatou que o iate saiu da ilha alemã de Rügen em 8 de setembro, com um capitão, quatro mergulhadores, um especialista em explosivos e Kuznietsov, retornando em 22 de setembro, dias antes das explosões. Depois, Kuznietsov retornou à Ucrânia de carro.
Os gasodutos Nord Stream já haviam sido motivos de tensão política antes mesmo das explosões. Embora criticados por países como os Estados Unidos por criar dependência do gás russo e riscos à segurança energética europeia, o projeto foi concluído com forte apoio da Alemanha entre 2005 e 2021.
Após a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022 e as sanções europeias contra Moscou, a Rússia suspendeu o fornecimento de gás para diversos países do continente.
Em 26 de setembro de 2022, as tubulações Nord Stream 1 e 2 sofreram sequências de explosões, causando vazamentos em quatro locais.
Ucrânia, Rússia e Estados Unidos foram apontados como possíveis responsáveis pela sabotagem, mas todos negaram envolvimento.
Autoridades de Suécia, Alemanha e Dinamarca identificaram vestígios de explosivos em um veleiro que teria sido utilizado para causar os danos nos gasodutos.