Guilherme Botacini
Brasília, DF (FolhaPress)
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), declarou que as ações de Israel na Faixa de Gaza representam a destruição do povo palestino e prejudicam a criação de um Estado palestino.
“O que está acontecendo em Gaza não é só a destruição do povo palestino, mas uma tentativa de eliminar seu sonho de formação nacional. Tanto Israel quanto a Palestina têm o direito de existir”, afirmou Lula durante uma conferência sobre a Palestina e a solução de dois Estados na ONU, evento que foi rejeitado por Israel e Estados Unidos.
Lula criticou fortemente as ações de Israel tanto em Gaza quanto na Cisjordânia e também apontou falhas do Conselho de Segurança da ONU, que ele vê como obstáculos ao diálogo e à cooperação internacional.
“O conflito entre Israel e Palestina revela os maiores desafios ao multilateralismo. Mostra que o uso do poder de veto prejudica o propósito da ONU de evitar atrocidades como as que causaram sua criação”, disse Lula.
Ele criticou indiretamente os Estados Unidos por usar o veto para bloquear decisões que buscam acabar com a guerra em Gaza.
“O veto também contraria a missão universal da ONU, impedindo a inclusão de um Estado cuja criação foi autorizada pela Assembleia-Geral”, afirmou Lula.
Lula lembrou que há 78 anos o plano para dividir o mandato britânico da Palestina foi aprovado numa sessão presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha. Na época, a ideia de dois Estados surgiu, mas só um foi criado.
“Um Estado depende de três pilares: território, população e governo. No caso palestino, todos esses pilares têm sido atacados”, explicou Lula.
Ele questionou como é possível falar em território diante da ocupação ilegal, como manter a população frente à limpeza étnica em andamento e como formar um governo forte sem dar poder à Autoridade Palestina.
Lula citou relatório recente da ONU que classificou as ações de Israel em Gaza como genocídio. Ele também mencionou a decisão do Brasil de se juntar ao processo na Corte Internacional de Justiça movido pela África do Sul contra Israel.
Lula condenou os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro de 2023, ressaltando que o Brasil foi claro ao repudiá-los, mas alertou que o direito à defesa não justifica matar civis inocentes.
O presidente também disse que meio milhão de palestinos enfrentam fome, número maior que a população de cidades como Miami ou Tel Aviv.
Ele elogiou os países que recentemente reconheceram o Estado palestino, incluindo França, Reino Unido, Canadá e Portugal, e afirmou o compromisso brasileiro de controlar importações e suspender exportações de materiais que possam ser usados em crimes contra a humanidade e genocídio.
Lula disse que a Assembleia-Geral da ONU deve agir diante da inação do Conselho de Segurança, apoiando a criação de um órgão similar ao que combateu o apartheid na África do Sul.
Ele falou após o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, afirmar estar pronto para governar a Faixa de Gaza.
Antes, o presidente da França, Emmanuel Macron, havia oficializado o reconhecimento da Palestina pela França, que coorganiza a conferência com a Arábia Saudita.
“Este reconhecimento mostra que o povo palestino é único, com história e dignidade, e o reconhecimento não diminui o povo de Israel”, declarou Macron.
O anúncio da França aconteceu um dia após decisões similares de Austrália, Canadá, Portugal e Reino Unido, que reconhecem formalmente a Palestina.
Além de ser o terceiro país do G7 a reconhecer a Palestina, a França tem importância por abrigar as maiores comunidades judaica e árabe da Europa.
Essa decisão também isola os EUA no Conselho de Segurança, onde agora 4 dos 5 membros permanentes reconhecem a Palestina (China e Rússia já apoiavam).