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segunda-feira, 29/12/2025

Isolamento e problemas na saúde básica aumentam o fumo na Amazônia Legal

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LUIS EDUARDO DE SOUSA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Devido a questões culturais e à dificuldade de acesso à informação e aos serviços básicos de saúde, o consumo de tabaco é maior nas comunidades tradicionais dos nove estados que compõem a Amazônia Legal do que na população em geral.

Nessas comunidades, 12% das pessoas se declaram fumantes, enquanto essa taxa é de 6% entre o restante da população da região.

Esses dados foram obtidos pela pesquisa Mais Dados, Mais Saúde, realizada pelas organizações Vital Strategies e Umane, com o apoio do instituto Devive. A pesquisa ouviu 4.037 pessoas de todos os estados da Amazônia Legal entre maio e julho deste ano.

As comunidades tradicionais incluem indígenas, seringueiros, quilombolas, ribeirinhos e extrativistas. Segundo o Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a Amazônia Legal abriga aproximadamente 867.919 indígenas e 427.801 quilombolas, que são dois dos principais grupos tradicionais da região.

A população dos nove estados — Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e parte do Maranhão — é de cerca de 26,7 milhões de habitantes, de acordo com o IBGE.

A pesquisa também aponta que 12,3% da população da Amazônia Legal consome álcool com frequência, ou seja, três ou mais vezes por semana, índice bem maior que a média nacional, que é próxima de 3%, segundo o Datafolha.

O tabagismo e o consumo de álcool são problemas antigos nas comunidades tradicionais. Em 2002, o tema foi debatido na 1ª Conferência Internacional sobre Consumo de Álcool e Redução de Danos, em Recife. Em 2025, o podcast “Dois Mundos” da Folha destacou que o problema continua presente em várias etnias da Amazônia.

De acordo com a diretora-adjunta de Doenças Crônicas da Vital Strategies, Luciana Vasconcelos, a principal dificuldade para reduzir o tabagismo nessas populações é a falta de informação em saúde. Muitas vezes, essas comunidades vivem longe dos postos de saúde, onde ocorrem ações de prevenção e educação.

“Historicamente, a ausência de campanhas que expliquem os riscos para a saúde está ligada a taxas maiores de tabagismo. Quando a pessoa não frequenta o sistema de saúde, ela não conhece os danos causados por certos hábitos”, afirma Luciana.

Além disso, o acesso limitado afeta também o atendimento. Na prática, um contato maior com os serviços de saúde poderia ajudar a diminuir o consumo de tabaco entre essas populações.

O especialista técnico da Vital Strategies, Gabriel Cortês, destaca que os fatores culturais também influenciam. “O tabaco é usado em rituais tradicionais e religiosos e está ligado a costumes de trabalho e comportamento. É comum imaginar o seringueiro ou o pescador com um cigarro”, explica.

Os dados mostram que o tabagismo é mais comum entre os homens da região, com 12,8% fumantes, enquanto entre as mulheres a taxa é de 4,6%, considerando toda a população da Amazônia Legal.

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