Especialistas e representantes do setor produtivo, incluindo trabalhadores, consideram um progresso a aprovação, pela Câmara dos Deputados, do projeto de lei que isenta do imposto de renda (IR) quem ganha até R$ 5 mil mensais e diminui os descontos para quem recebe até R$ 7.350.
O projeto, aprovado por unanimidade e agora enviado ao Senado, se sancionado ainda este ano, valerá a partir de janeiro de 2026, proporcionando um alívio no salário dos trabalhadores.
Pedro Rossi, economista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), classificou a aprovação como um marco, destacando que o tema tributário está ganhando espaço para avanços políticos.
Sérgio Nobre, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), comemorou a medida como uma grande vitória para a classe trabalhadora.
Justiça tributária
Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, também da Unicamp, ressaltou que o sistema tributário deve ajudar a distribuir renda e que o reajuste no IR terá impacto positivo na economia, aumentando o consumo e investimentos, o que pode diminuir a inflação.
Alívio financeiro para a classe média baixa
Pedro Humberto de Carvalho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), estima que a classe média baixa terá uma folga no orçamento de R$ 350 a R$ 550 por mês, possibilitando maior consumo e melhoria na economia, mesmo com possível impacto inflacionário nos serviços.
Quem ganha R$ 5 mil terá uma redução de cerca de R$ 313 por mês no desconto do IR.
Tributação dos mais ricos
Para compensar a redução na arrecadação, o projeto prevê cobrança adicional para pessoas com rendimentos acima de R$ 600 mil por ano, grupo que inclui aproximadamente 141,4 mil contribuintes de alta renda.
Atualmente, esses contribuintes pagam em média 2,5% de IR sobre seus rendimentos totais, enquanto a média para trabalhadores é entre 9% e 11%.
Menor endividamento
Gilberto Braga, economista do Ibmec, explicou que o aumento de renda disponível ajudará no consumo e no pagamento de dívidas, promovendo um funcionamento mais ágil da economia.
Reivindicações dos trabalhadores
Sérgio Nobre falou que ampliar a faixa de isenção do IR atende uma antiga demanda dos trabalhadores e beneficia a maior parte da classe trabalhadora, sendo comparado a um 14º salário.
Ele também mencionou que a luta continua por isenção sobre participação nos lucros e resultados (PLR), tabela progressiva do IR e correção anual pela inflação.
Possíveis avanços futuros
Pedro Rossi mencionou que apesar do avanço na taxação dos mais ricos, ainda existem distorções tributárias significativas no Brasil, como a isenção de dividendos para quem recebe menos de R$ 50 mil mensais.
Ele sugeriu a criação de alíquotas maiores para rendas elevadas e a redução de impostos indiretos em troca da taxação de renda e patrimônio, com potencial para ampliar gastos públicos em saúde, educação e ações climáticas.
Posição do setor produtivo
Fabio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), considerou a ampliação da isenção do IR uma medida justa e positiva para quem tem menor renda, mas expressou preocupação sobre o financiamento da medida e a possível elevação da carga tributária sem ajustes adequados.
A CNC destacou que o Brasil possui uma das maiores cargas tributárias entre países em desenvolvimento, concentrada no consumo, e defende que melhorias não prejudiquem a competitividade das empresas.
Correção de defasagens
Mário Sérgio Telles, diretor de Economia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), afirmou que a medida corrige defasagens ao evitar que reajustes salariais sejam consumidos por cobranças maiores de imposto não ajustadas pela inflação, o que tende a estimular o consumo.
Ele destacou, porém, que outros incentivos ao consumo devem ser coordenados para não comprometer o controle da inflação e que o Banco Central precisa diminuir a taxa de juros, atualmente em 15% ao ano, para estimular a economia.
*Informações da Agência Brasil*