O acordo de paz firmado entre Armênia e Azerbaijão, sob a mediação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em agosto deste ano, ainda gera preocupação no Irã. O país enxerga uma das cláusulas do acordo como uma possível chance para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estabelecer presença nas suas fronteiras.
De acordo com a mídia estatal iraniana divulgada nesta terça-feira (16/12), essa preocupação foi expressa por Ali Akbar Velayati, um dos principais conselheiros do aiatolá Ali Khamenei.
Paz após longos conflitos
O conflito entre Armênia e Azerbaijão remonta ao desmembramento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), envolvendo uma disputa territorial e étnica pela região de Nagorno-Karabakh, também conhecida como Artsak pelos armênios. Essa área autônoma está dentro do território do Azerbaijão, mas historicamente era habitada por armênios étnicos.
Desde o final dos anos 1980, dois conflitos armados ocorreram nessa região. A guerra chegou ao fim em 2023, quando tropas do Azerbaijão lançaram uma ofensiva e retomaram o controle do enclave armênio, fazendo com que muitos residentes de Nagorno-Karabakh fugissem, buscando refúgio principalmente na Armênia.
Em encontro com o embaixador da Armênia no Irã, Grigor Hakobyan, Velayati indicou que o plano de paz de Trump é uma reinterpretação da ideia de criar um corredor que ligasse o Azerbaijão ao exclave azeri de Naquichevão — situado dentro do território armênio — e à Turquia.
No acordo assinado em agosto, a passagem antes conhecida como corredor de Zangezur foi renomeada para “Rota Trump para a Paz e Prosperidade Internacional (TRIPP)”, prevendo a participação de empresas norte-americanas na construção desse trajeto.
Para o governo iraniano, porém, a TRIPP constitui uma ameaça, pois pode facilitar a presença de tropas ocidentais, como dos EUA e da OTAN, na área fronteiriça entre Irã e Armênia.
“O projeto de Trump é o mesmo do corredor de Zangezur, mudando apenas o nome, e está em andamento com a entrada de empresas americanas na Armênia”, afirmou Velayati ao diplomata armênio.
Segundo ele, a preocupação decorre do histórico dos EUA, que inicialmente ingressam em regiões delicadas por meio de projetos com aparência econômica, mas cuja presença se amplia gradativamente para incluir aspectos militares e de segurança.
Embora o acordo tenha sido oficialmente assinado em agosto, sua implementação avança lentamente, enquanto as autoridades de Erevan e Baku buscam definir como executar os termos acordados.

