IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Na segunda-feira (23), o Irã executou a retaliação anunciada contra o ataque dos Estados Unidos a três de suas instalações nucleares, lançando mísseis contra a principal base americana no Oriente Médio, Al-Udeid, localizada em Doha, Qatar.
Contrariando a expectativa de uma escalada do conflito, a ação parece ter sido coordenada para permitir que tanto Teerã quanto Washington possam diminuir as tensões. O presidente Donald Trump agradeceu ao Irã por ter dado aviso prévio do ataque, classificou a resposta iraniana como “fraca” e sugeriu que negociações de paz fossem iniciadas.
Além disso, Trump afirmou que Israel deveria seguir o mesmo caminho, indicando o desejo de encerrar as hostilidades que começaram quando o Estado judeu bombardeou o Irã no dia 13, visando neutralizar seu programa nuclear e suas forças militares.
O Irã havia anunciado um ataque ao aeródromo de Ain al-Asad, no Iraque, mas este não ocorreu. Antes das declarações de Trump, já havia sinais de contenção por parte do Irã. O líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, declarou que “não iniciamos agressão contra ninguém, mas não aceitaremos agressões contra nós”.
Após as palavras do presidente americano, o ministério das Relações Exteriores iraniano afirmou estar preparado para responder caso os EUA ataquem novamente, indicando abertura para reduzir as tensões.
Ambos os lados têm interesse em evitar o prolongamento do conflito. O Irã tem sofrido perdas em suas capacidades defensivas, enquanto Trump busca contornar críticas internas que rejeitam intervenções estrangeiras e enfrenta queda em sua popularidade. Ele ressaltou que o importante é que os iranianos tenham expressado sua insatisfação, facilitando assim a paz, e destacou que o ataque americano de sábado eliminou o programa nuclear iraniano.
Durante a noite tensa, as forças iranianas comunicaram que seus mísseis visavam exclusivamente interesses americanos, evitando áreas residenciais, e que não desejam criar problemas com Doha.
O Qatar, uma pequena monarquia rica em petróleo com cerca de 1 milhão de habitantes, relata fortes explosões e pânico nas ruas, com pessoas em estado de choque e centros comerciais fechados como medida de precaução. Os Estados do Golfo, incluindo Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Kuwait, fecharam temporariamente seus espaços aéreos em resposta.
Trump declarou que 13 dos 14 mísseis enviados pelo Irã foram interceptados, com um caindo sem causar danos.
Este evento lembra o ocorrido em 2020, quando o Irã atacou uma base americana no Iraque após o dos EUA eliminar o general iraniano Qassim Suleimani em Bagdá.
A base de Al-Udeid, situada a cerca de 350 km da costa iraniana, tem cerca de 10 mil militares, incluindo aliados como os britânicos, e é uma importante base aérea dos EUA na região. Antes do ataque, os EUA retiraram a maioria de seus aviões de combate e transporte da base.
A situação no Iraque também permanece tensa, com defesas antiaéreas ativadas, mas sem relatos oficiais de ataque recente. O país enfrenta dificuldades adicionais devido à presença de milícias xiitas armadas pelo Irã.
Antes da retaliação iraniana, Israel realizou ataques significativos contra locais ligados ao regime de Teerã, sinalizando sua intenção de enfraquecer o governo iraniano.
Trump havia advertido que qualquer retaliação iraniana contra alvos americanos resultaria em resposta ainda mais severa, o que não se concretizou até o momento, limitando-se ao discurso das partes.
Em meio a preocupações globais, o presidente francês Emmanuel Macron convocou as nações a retomar negociações para controlar o programa nuclear do Irã e prevenir o aumento da instabilidade na região.