O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou nesta quinta-feira (26) um relatório que reúne todas as iniciativas adotadas pelos países membros do Brics desde a fundação do grupo em 2009. São mais de 180 mecanismos de cooperação que fortalecem a governança e servem como referência para novos membros.
O documento foi apresentado durante o segundo dia do 17º Fórum Acadêmico do Brics (Fabrics), realizado na sede do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) em Brasília.
Segundo Walter Desiderá, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, o relatório documenta as atividades e resultados propostos pelo Brics, funcionando como referência para a entrada de novos participantes. Ele também destaca quais mecanismos tiveram maior adesão e impacto entre os membros.
Luciana Santos Servo, presidenta do Ipea, ressaltou que a entrega do documento é simbólica e que esta documentação continuará sendo atualizada como uma base de dados dos mecanismos implementados.
Debates no Fórum Acadêmico
Durante o Fabrics, foram realizados debates sob a presidência brasileira do Brics com representantes de nove países, organizados em seis áreas prioritárias: saúde global, inteligência artificial, mudanças climáticas, comércio e finanças, reforma da governança internacional e desenvolvimento institucional.
Um dos temas principais foi mudanças climáticas, abordando os impactos acentuados nos países em desenvolvimento, especialmente na África Subsaariana. Os debates incluíram justiça climática, desigualdades regionais e recomendações para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), prevista para novembro em Belém.
Mulugeta Getu, pesquisador-líder e coordenador do Policy Studies Institute da Etiópia, afirmou que um grande desafio é o investimento, e que futuras soluções podem estar na implementação de projetos sustentáveis financiados pelo New Development Bank (NDB) e no desenvolvimento de plataformas para compartilhamento de informações e tecnologias entre países.
Outro ponto discutido foi a arquitetura de segurança, especialmente após os recentes conflitos no Oriente Médio. Houve reivindicações para reformar o sistema multilateral, incluindo o Conselho de Segurança da ONU, com ênfase no fortalecimento do Sul Global.
Rodrigo Morais, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, destacou que o Brics valoriza a manutenção da paz, o pacto de não agressão e a criação de mecanismos de confiança entre os membros.
Nirmala Gopal, professora da Universidade de KwaZulu-Natal, África do Sul, enfatizou que as posições precisam se transformar em ações concretas para fortalecer as instituições multilaterais, além de merecerem atenção além do debate político.
Os participantes celebraram a recente expansão do Brics com a inclusão de seis novos países-membros em 2024: Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. Contudo, salientaram os desafios para ampliar os mecanismos de cooperação.
Foram propostas soluções como a criação de modelos institucionais mais claros, estruturas para monitorar resultados e a criação de um escritório permanente do grupo.
Haimanot Guangul, pesquisador sênior e ponto focal do Brics no Institute of Foreign Affairs da Etiópia, ressaltou que sem cooperação estratégica, o desenvolvimento institucional fica comprometido. É necessário organizar-se, definir escolhas para entender o futuro esperado, fortalecer a união do bloco, considerar possíveis reformas e ter uma visão clara das questões críticas entre os países.