O resultado mostra desaceleração no aumento de preços medido pelo índice, após altas sucessivas nas taxas de juros
O IPCA-15 de dezembro, prévia da inflação brasileira, confirmou um início de desaceleração da alta de preços. No resultado divulgado nesta quinta-feira, 23, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA-15 registrou variação de 0,78% em dezembro.
No acumulado de 12 meses, a alta medida pelo IPCA-15 foi de 10,42%, a maior para um mesmo ano desde 2015.
O resultado mostra queda no aumento de preços medido pelo índice, após alta de 1,17% em novembro. Como prévia do IPCA oficial (divulgado somente no mês seguinte), o IPCA-15 mede os períodos até meados de cada mês.
Em novembro, o IPCA oficial já havia ficado abaixo das projeções de mercado (subindo 0,95%), o que sugere que a inflação pode ter atingido um ponto de inflexão.
Os itens que mais subiram
Apesar de altas menores do que nos meses anteriores, os preços seguem subindo mesmo com a economia em baixa. Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, sete apresentaram alta em dezembro. Apenas Saúde e cuidados pessoais (-0,73%) e Educação (0,00%) não registraram aumento no mês de dezembro no IPCA-15.
O maior impacto na cesta do índice e a maior alta de preços veio do grupo dos Transportes (2,31%), puxados por aumento no preço dos combustíveis.
- Até meados de dezembro, o preço da gasolina subiu 3,28% no IPCA-15;
- O etanol subiu 4,54%;
- O óleo diesel subiu 2,22%.
Como previsto, outro destaque nas altas do mês foram as passagens aéreas, que tiveram alta de 10,07% em dezembro, após recuo de -6,34% em novembro, influenciadas por preço dos combustíveis e alta procura no fim de ano.
O grupo de Habitação (alta de 0,90%), o segundo que mais subiu no mês, altas consistentes ainda continuam em frentes como energia elétrica e gás de cozinha e de botijão. O gás de botijão teve alta de preços pelo 19º mês consecutivo, aponta o IBGE.
No grupo de Alimentação e Bebidas (0,35%), o terceiro com maior alta, o destaque ficou para o café moído, que subiu 9,10%, mais que o dobro da alta de novembro. Preços de frutas e carnes voltaram a subir após queda em novembro.
Os preços no Brasil vêm em uma trajetória de altas bruscas nos últimos meses, em meio à subida de preços de combustíveis no mercado internacional, crise hídrica que impactou a energia elétrica e preços dos alimentos que vieram de altas do ano passado.
O choque de oferta mundo afora diante da pandemia da covid-19, como a falta de insumos para a indústria, também colabora negativamente.
Inflação em 5% em 2022?
A inflação brasileira está em dois dígitos desde setembro no acumulado de 12 meses. Ainda assim, diante da alta da taxa de juros, a expectativa é de desaceleração da economia e da demanda e consequente queda na inflação ao longo dos próximos meses.
Para 2022, analistas ouvidos para o boletim Focus do Banco Central projetam alta de 5,03% no IPCA, segundo a última edição do ano do relatório, divulgada nesta segunda-feira, 20.
Bancos e casas de análise já estimam o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil com crescimento abaixo de 1% ou em zero para o ano que vem. Os números do PIB no terceiro trimestre, os últimos divulgados, também mostram estagnação da economia, apesar da vacinação em massa no Brasil. Preocupações globais com a variante Ômicron do coronavírus também podem impactar as economias em todo o mundo.
O Banco Central tem promovido sucessivos aumentos na taxa Selic para conter a inflação. A última alta da Selic foi de 7,75% para 9,25% ao ano, em 8 de dezembro, e a projeção é que a taxa de juros chegue a dois dígitos já na primeira reunião do Copom no ano que vem.
O resultado do IPCA-15 em dezembro ficou levemente abaixo das projeções, confirmando a tendência de queda após as altas na taxa Selic. O relatório Spoiler Macro divulgado no começo da semana pelo time de Macro & Estratégia do BTG Pactual (BPAC11) projetava alta de 0,81% no IPCA-15 de dezembro.