PAULO RICARDO MARTINS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Especialistas e consultores do mercado financeiro afirmam que, mesmo com a redução das metas ambientais por algumas empresas e a pressão do governo Trump para aumentar a produção de petróleo, os investimentos em títulos verdes e ETFs (fundos que acompanham índices) continuam sendo opções interessantes para os investidores.
De acordo com a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), o valor dos fundos de investimento sustentável (IS) ultrapassou R$ 40,41 bilhões em outubro deste ano, um crescimento de 37% comparado ao mesmo mês do ano anterior.
Outros fundos que incluem critérios ESG (ambiental, social e governança) também cresceram na mesma proporção, segundo a entidade.
Os recursos captados pelos fundos IS chegaram a R$ 10,78 bilhões de janeiro a outubro de 2025. Mario Perrone, responsável por Captação e Investimentos do Banco do Brasil, projeta que até 2030 o banco terá R$ 30 bilhões em fundos sustentáveis.
Mario Perrone destaca que aplicações sustentáveis estão ganhando força tanto pela procura dos investidores quanto pelas mudanças estruturais relacionadas à transição energética, infraestrutura e governança.
O Banco do Brasil oferece fundos que investem em empresas com alta governança corporativa e que adotam práticas para o desenvolvimento sustentável e a proteção do meio ambiente.
“Investir de forma sustentável não é só uma moda, mas uma chance de unir ganhos financeiros com um propósito significativo. Ao incluir esses investimentos de forma planejada, os investidores colaboram para um futuro mais responsável e fortalecem a diversidade, segurança e retorno da carteira,” afirma Mario Perrone.
José Maria Silva, especialista da Avenue, comenta que ETFs temáticos focados em sustentabilidade, que investem em empresas ou ativos que seguem os critérios ESG, são excelentes para quem quer começar a investir nessa área.
Os ETFs refletem o desempenho dos índices que acompanham, como o ISE B3 (Índice de Sustentabilidade Empresarial), o que significa que o retorno do ETF é equivalente ao do índice.
José Maria Silva também menciona fundos que investem em infraestrutura e em temas ligados à transição energética como boas alternativas.
“Em um cenário global onde a sustentabilidade é tendência, o investidor tende a ter melhores resultados ao escolher opções que diversificam os investimentos, buscando várias empresas e setores ao invés de apostar em um único ativo,” diz ele.
Apesar do recuo de algumas empresas em suas metas ESG, José Maria Silva acredita que a sustentabilidade continuará sendo uma tendência importante.
“Não garanto que os investimentos sustentáveis vão sempre ter garantias melhores, mas eles complementam os investimentos tradicionais e ajudam a formar uma carteira equilibrada,” ressalta.
Patricia Ellen, sócia-presidente da consultoria Systemiq Latam, explica que os green bonds (títulos verdes) são uma boa opção para quem busca investimentos de baixo risco, comparáveis ao CDB (Certificado de Depósito Bancário).
“O título verde é atraente porque também gera benefícios sociais e ambientais importantes. Seu retorno é parecido com o de um título comum, às vezes um pouco menor, mas investir diretamente nesses negócios pode ser bastante vantajoso,” diz Patricia Ellen.
Segundo a Moody’s, a emissão global de títulos sustentáveis foi de US$ 179 bilhões no terceiro trimestre de 2025, uma queda de 33% em relação ao ano anterior, principalmente na Europa, Ásia e América do Norte.
No entanto, Serena Canjani, analista da Moody’s, destaca que esses títulos são essenciais para financiar a transição energética e prevê crescimento na emissão de títulos em setores com alto risco de transição de carbono.
A agência alerta que a América Latina enfrenta um déficit anual de US$ 177 bilhões até 2030 para a transição e que sem esses recursos é difícil alcançar metas de neutralidade de carbono.
“Isso evidencia uma grande falta de financiamento, o que abre uma oportunidade para as finanças sustentáveis desempenharem um papel fundamental,” afirma Serena Canjani.
O QUE É UM FUNDO SUSTENTÁVEL?
Para a Anbima, um fundo IS (investimento sustentável) tem o propósito de proteger, contribuir, evitar danos, gerar impacto positivo ou garantir direitos em questões ambientais, sociais ou de governança, sem comprometer o desempenho financeiro.
COMO IDENTIFICAR UM FUNDO SUSTENTÁVEL?
Fundos totalmente sustentáveis têm o sufixo IS no nome, identificados pelas instituições e supervisionados pela Anbima. Também podem incluir termos como “ASG”, “ESG” ou “Sustentabilidade”.
Fundos que apenas aplicam critérios ESG em sua gestão, mas não têm o investimento sustentável como principal objetivo, não podem usar o sufixo IS, mas podem informar que integram questões ASG nos materiais comerciais.
Um fundo não pode ser ao mesmo tempo IS e integrar apenas aspectos ESG.
O QUE É UM FUNDO IS ESPELHO?
Um fundo espelho investe pelo menos 95% do patrimônio em outro fundo. No caso de um fundo IS espelho, o investimento deve ser direcionado a um fundo IS no Brasil ou no exterior.
Fonte: Anbima

