20.5 C
Brasília
domingo, 28/12/2025

Investimentos verdes no Brasil crescem, mas ignoram setores que mais poluem

Brasília
nuvens dispersas
20.5 ° C
20.5 °
18.1 °
84 %
1.5kmh
40 %
dom
31 °
seg
32 °
ter
31 °
qua
28 °
qui
28 °

Em Brasília

NICOLA PAMPLONA
FOLHAPRESS

O dinheiro investido para combater as mudanças do clima no Brasil mais que dobrou desde 2019, chegando a US$ 67,8 bilhões (R$ 360 bilhões) em 2023, um crescimento de 157%. No entanto, a maior parte desses recursos vai para o setor de energia, que não gera tantas emissões de gases causadores do efeito estufa no país.

Este tema é central na COP30, a conferência da ONU sobre o clima, que acontece em Belém. Países em desenvolvimento pedem mais ajuda financeira dos países ricos, que são os maiores responsáveis pela poluição global.

De acordo com um estudo do CPI/PUC-RIO (Climate Policy Initiative em parceria com a PUC/Rio), 44% dos recursos investidos em 2022 e 2023 foram para projetos de geração de energia.

Isso representa o dobro do período anterior, impulsionado principalmente pelo aumento de projetos de energia solar, motivado pelo fim dos subsídios que acabou em julho de 2023. O investimento em usinas solares saltou de US$ 9,5 bilhões (R$ 50 bilhões) para US$ 22,4 bilhões (R$ 118 bilhões).

Setores que geram mais poluição no Brasil, como agricultura e uso da terra, também receberam o dobro dos recursos no mesmo período, mas grande parte vem de crédito rural oferecido por bancos, que é alinhado ao clima, mas muitas vezes não traz resultados efetivos ou é mal fiscalizado.

Um estudo do CPI/PUC-RIO mostra que quase três quartos das áreas que receberam empréstimos para recuperar pastagens não apresentaram mudanças quatro anos depois.

Juliano Assunção, diretor executivo do CPI/PUC-Rio, destaca que a restauração de pastagens é uma linha importante desse crédito rural, mas parte do crédito concedido não está necessariamente ligada a resultados concretos.

Os recursos para proteção de florestas caíram muito entre 2019 e 2023, de US$ 1,5 bilhão (R$ 8 bilhões) para apenas US$ 254 milhões (R$ 1,3 bilhão). No Brasil, o desmatamento e a agropecuária respondem por mais de dois terços das emissões de gases do efeito estufa.

“Há uma forte concentração dos recursos em energia, o que não corresponde ao perfil das emissões brasileiras”, afirmam os autores do estudo Panorama das Finanças Climáticas no Brasil, lançado no início do mês.

Desde 2024, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem acelerado projetos para restaurar e proteger florestas. Esta semana, em Belém, anunciou que já mobilizou R$ 7 bilhões em operações contratadas para isso.

Os dados do banco mostram, porém, que cerca de 55% dos R$ 22 bilhões aprovados pelo Fundo Clima são destinados a projetos de energia.

Quase um terço dos contratos com recursos desse fundo são para usinas solares, setor que especialistas dizem ser a causa do excesso de energia e dos desafios na operação do sistema elétrico brasileiro.

A concentração desses financiamentos em um setor com baixa emissão não é só no Brasil: no mundo, quase metade dos US$ 1,8 trilhão gastos em 2023 foram para sistemas de energia, segundo o estudo global da CPI.

O setor de transporte, impulsionado pela eletrificação de veículos, responde por quase um terço desse total. No Brasil, ainda há recursos para esse setor, mas em menor escala, com a logística e mobilidade verde representando 10% das aprovações do Fundo Clima.

Com o amplo uso de biocombustíveis, a queima de combustíveis fósseis em veículos terrestres no Brasil representa cerca de 10% das emissões totais do país.

Além da forte concentração em energia, o Brasil precisa melhorar a distribuição de recursos para adaptação às mudanças climáticas, ou seja, para preparar o país para enfrentar secas, enchentes e desastres naturais que já ocorrem.

Este tipo de financiamento recebeu apenas 7% dos recursos no país em 2022 e 2023, conforme o estudo do CPI/PUC-RIO. Dados do BNDES indicam que em 2025 os projetos de adaptação terão 10% do valor aprovado para mitigação.

Rogério Studart, conselheiro do Hub de Economia e Clima do ICS (Instituto Clima e Sociedade), afirma que globalmente só 2% dos financiamentos climáticos vão para adaptação.

Ele destaca que, quando há enchentes, as comunidades mais pobres são as mais afetadas e que as prioridades deveriam ser saneamento, moradia digna, infraestrutura básica e reconstrução de pontes e diques.

Veja Também