ADRIANA FERNANDES, THAÍSA OLIVEIRA e ANA POMPEU
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
Está em curso uma investigação para apurar suspeitas de que o Banco Master, liderado por Daniel Vorcaro, teria pago comissões a servidores públicos com o objetivo de criar carteiras de empréstimos consignados falsas.
A origem dessas operações suspeitas teria sido na Bahia, conduzidas pelo empresário Augusto Lima, preso pela Polícia Federal na operação Compliance Zero. O esquema, segundo fontes próximas à investigação, teria se expandido para outros estados.
Os investigadores suspeitam que assessores de órgãos públicos e até governadores receberam valores elevados para incentivar a criação de empréstimos consignados inexistentes, o que teria ampliado a atuação do Banco Master.
A investigação também apura a participação de políticos e agentes públicos na venda de títulos financeiros para fundos de pensão de estados e municípios.
A defesa de Augusto Lima declarou surpresa com a operação, afirmando que ele já havia deixado suas funções executivas no Master em maio de 2024.
O juiz Ricardo Leite, que autorizou os mandados, destaca que há necessidade de investigar o grau de influência dos diretores do banco junto a repartições públicas, especialmente na captação dos fundos de pensão, que investiram recursos dos pensionistas em ativos de alto risco.
Institutos de previdência de servidores municipais e estaduais aplicaram R$ 1,87 bilhão em títulos do Banco Master, que não são protegidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), entre outubro de 2023 e dezembro de 2024.
O Ministério Público Federal considera que esses investimentos são incompatíveis com a segurança e a liquidez exigidas para a proteção das aposentadorias.
Augusto Lima, ex-sócio de Vorcaro no Master, foi preso em São Paulo, onde foram encontrados cerca de R$ 1,6 milhão em dinheiro.
A parceria entre Vorcaro e Lima teve início em 2017 com o Banco Máxima, que passou a ser controlado por Vorcaro em 2019 e renomeado Banco Master em 2021.
O modelo de negócio baseado em crédito consignado para servidores, iniciado na Bahia com o cartão Credcesta, foi replicado em outras 23 unidades da federação, incluindo Distrito Federal e Paraná.
Augusto Lima teria criado duas associações – Asteba e Asseba – para camuflar as operações irregulares, que foram adquiridas pelo Banco de Brasília (BRB).
O Banco Central investigou essas associações e não encontrou movimentações compatíveis com a suposta cessão dos empréstimos consignados, o que levou o MPF a solicitar informações à Secretaria de Administração da Bahia.
A investigação constatou que os valores descontados dos servidores correspondem a pequenas mensalidades associativas e não poderiam justificar os R$ 6,7 bilhões em empréstimos adquiridos pelo BRB.
Essas carteiras falsas estariam relacionadas com a tentativa frustrada de venda do Banco Master ao BRB, que teria servido para mascarar fraudes contábeis. O Banco Central determinou a devolução dessas carteiras, e a compra do Master pelo BRB teria sido uma estratégia para camuflar a situação.
A partir de janeiro de 2025, as cessões de crédito começaram a incluir CPFs de várias regiões do país, indicando uma ampliação das fraudes.
Decisão judicial ressalta que para cobrir um rombo de R$ 12 bilhões, o Banco Master se associou irregularmente a uma Sociedade de Crédito Direto para inflar seu patrimônio com carteiras fictícias revendidas ao BRB.
Augusto Lima teria usado laranjas nas associações Asteba e Asseba, que contavam com procurações para atuar em nome delas.
Investigações indicam que Lima se reuniu em abril de 2025 com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e Vorcaro, para defender a venda do Master ao BRB.
A Polícia Federal cumpriu mandados de busca nas sedes da Asseba e Asteba em Salvador.
A Folha de S.Paulo tentou contato com as associações, mas não obteve respostas esclarecedoras.
