LUCAS MARCHESINI
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
A Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Brasil (Conafer), que está sendo alvo de investigações por fraudes relacionadas a descontos associativos no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), possui uma estreita conexão com outra associação que também realiza descontos nas aposentadorias.
A Associação de Aposentados do Brasil (AAB) recolheu R$ 28 milhões em descontos nas aposentadorias e pensões pagas pelo INSS entre agosto de 2024 e abril de 2025, uma média de R$ 3 milhões por mês durante esses nove meses. No entanto, a AAB não foi incluída na lista de 11 entidades investigadas pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU), nem entre as 12 que tiveram seus bens bloqueados por decisão da Advocacia-Geral da União (AGU).
Nem a Conafer, nem a AAB responderam aos questionamentos da Folha de S.Paulo.
A Conafer é a segunda entidade com maior valor em descontos associativos registrados no INSS, totalizando R$ 484 milhões entre 2019 e 2024, ficando atrás apenas da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), que recebeu R$ 2,1 bilhões no mesmo período.
Anteriormente, em 2020, a Polícia Civil do Distrito Federal investigou a Conafer por fraudes em descontos associativos. Conforme a investigação da PF, a arrecadação dessas cobranças explodiu: R$ 350 mil em 2019 para R$ 57 milhões em 2020, mantendo crescimento acelerado com R$ 92,2 milhões em 2022 e R$ 202,3 milhões em 2023.
Assinatura de acordo controverso
O acordo da AAB com o INSS foi divulgado no Diário Oficial da União em 31 de outubro de 2023, assinado pelo então diretor de Benefícios do INSS, André Fidelis, que está entre os investigados pela Polícia Federal.
O apoio político de Fidelis vem da Conafer, uma das 11 associações mencionadas no relatório da PF. Ele foi exonerado em julho de 2024, acusado de atrasar uma auditoria sobre os descontos associativos intermediados pelo INSS, conforme declarou o ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT).
A defesa de André Fidelis afirmou que ainda não teve acesso completo aos procedimentos da operação, e, portanto, não emitirá declarações públicas neste momento.
Relações familiares e societárias entre as entidades
O presidente da AAB, Dogival José dos Santos, assinou o acordo pela associação. Ele é casado com Lucineide dos Santos Oliveira, diretora da AAB e irmã de Samuel Chrisostomo do Bomfim Junior, ex-contador da Conafer. A terceira diretora da AAB, Creuza dos Santos, é mãe de Lucineide e Samuel.
Samuel aparece na investigação da Polícia Federal devido a conexões com Cícero Marcelino de Souza Santos, que teve mandado de busca e apreensão em maio por conta de sua ligação com a Conafer.
Segundo as investigações, Cícero Marcelino teria recebido R$ 291,5 mil do presidente da Conafer, Carlos Lopes, e existiram muitas transações envolvendo empresas das quais ele é sócio.
Embora Samuel e Cícero Marcelino não sejam sócios oficialmente, eles e Lucineide compartilham várias empresas localizadas no mesmo endereço no Recanto das Emas, próximo a Brasília.
- Cunha e Santos Locação e Nobre Eventos pertencem a Cícero Marcelino;
- Impacto Serviços Especializados, Expresso Publicidade, Cifrão Sistemas e Solution pertencem a Samuel;
- Outras empresas como Solution, Expresso e Impacto são de Lucineide.
Funcionários da Conafer, que preferiram manter anonimato, afirmaram à Folha que a contabilidade da AAB é feita pela Conafer e que ambas as organizações compartilham vários funcionários.
Tentativas de contato por Whatsapp e por meio das associações não tiveram respostas dos representantes citados.