Criado por Sérgio Mascarenhas, sensor da Brain4care traz método não invasivo para monitorar problemas neurológicos e agora parte para conquistar uma fatia estimada de US$ 1 bilhão no mercado dos EUA
Temperatura, pressão sanguínea e… volume intracraniano? A healthtech brasileira Brain4care acredita que um sensor não invasivo pode transformar a forma como o paciente é atendido hoje e trazer novas métricas ao processo de triagem.
A tecnologia já está presente em alguns hospitais do Brasil, e agora acaba de receber aprovação inédita da agência de saúde FDA para comercializar sua solução completa no mercado dos Estados Unidos.
Com a aprovação, a healthtech de São Carlos parte para conquistar uma fatia estimada em 1 bilhão de dólares no mercado norte-americano, após rodadas iniciais de captação de 14 milhões de dólares aqui no Brasil.
Criado pelo cientista Sérgio Mascarenhas, falecido em maio deste ano, o sensor Brain4care é o primeiro método, no mundo, totalmente não invasivo capaz de monitorar a capacidade do crânio de manter a sua pressão estável.
Em linhas gerais, o sensor capta as ondas que indicam a relação entre volume e pressão dentro do crânio. Depois, ele envia um relatório ao aplicativo da Brain4care, que funciona na nuvem e pode ser acessado em tempo real e remotamente pelo especialista.
“A solução não depende de nenhuma infraestrutura hospitalar. É o celular e o sensor”, explica Plínio Targa, CEO da Brain4care, em entrevista exclusiva à EXAME.
A tecnologia vem em uma maleta que pode ser transportada para qualquer lugar. O preço é de 4.600 reais por mês. “Se é um sinal vital, está diretamente associado à redução da mortalidade, qualidade de vida das pessoas. Por isso, precisa ser acessível e barato.”
O dispositivo pode ser útil em UTIs, acidentes de carro, campos de futebol ou outras situações onde alguém pode sofrer algum trauma craniano repentino. Ele também serve para auxiliar os médicos em diagnósticos de diferentes tipos de distúrbios, principalmente os neurológicos, que são a segunda maior causa de mortes no mundo.
“A monitorização possibilita o diagnóstico precoce de doenças relacionadas a diversas áreas do corpo”, explica Targa. De acordo com o presidente executivo, pesquisas científicas que utilizam a tecnologia brain4care indicam que o sensor pode prever um AVC e que doenças renais têm alteração na pressão do cérebro. Até uma doença pulmonar grave causada pela covid-19, por exemplo, pode levar a distúrbios de circulação cerebral e alteração da pressão intracraniana.
No Brasil, o método já é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “O único problema é que ninguém sabe. Nosso desafio é criar toda uma estrutura de pesquisa científica, publicações ou cases para que as pessoas percebam que está disponível e é acessível, mas eles nunca usaram.”
Grandes nomes como Hospital Beneficência Portuguesa, Hospital Nove de Julho e Rede D’Or utilizam o método no Brasil. Pesquisas com a tecnologia estão sendo realizadas pela USP, Unifesp e também nos Estados Unidos pelo John Hopkins Hospital e o Cleveland Clinic.
“Não estamos querendo vender [o produto] desesperadamente, porque há uma curva de adoção muito lenta”, conta Targa, que acredita que a aceleração forte deve acontecer entre 2024 e 2025. A estimativa da companhia é que, no futuro, a fatia de mercado mundial da tecnologia Brain4care seja de 20 bilhões de dólares, com mais de 2 milhões de sensores sendo utilizados em todos os continentes.
Atualmente, o faturamento da Brain4care em 2021 já ultrapassa 1 milhão de reais. Agora, com a aprovação da FDA, o próximo passo é buscar aportes estimados em aproximadamente 100 milhões de dólares em investimentos nos próximos anos.
Por Exame