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quinta-feira, 06/11/2025




INSS transferiu quase 400 milhões para investigada na CPI

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Em Brasília

CAIO SPECHOTO E THAÍSA OLIVEIRA
FOLHAPRESS

A Associação Ambec, que oferece benefícios coletivos para aposentados, recebeu R$ 394,5 milhões do INSS entre 2023 e abril deste ano, segundo relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

O relatório obtido pela reportagem levanta dúvidas sobre o volume dessas transações e indica movimentações financeiras incomuns.

A entidade, principal suspeita no caso de descontos irregulares em aposentadorias do INSS, fez transferências milionárias entre suas próprias contas e para empresas ligadas ao empresário Maurício Camisotti, apontado como possível beneficiário do esquema.

A reportagem tentou contato com a Ambec, mas não obteve resposta. A defesa de Camisotti negou irregularidades.

A Ambec ficou conhecida nacionalmente após operação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União, em abril, que investigou entidades e empresas que se beneficiaram de descontos não autorizados em benefícios previdenciários.

Essas entidades tinham acordos com a Previdência para descontar valores diretamente dos benefícios, desde que autorizados pelos beneficiários. Porém, os descontos eram feitos sem o consentimento dos aposentados e pensionistas.

Um relatório da PF aponta que a Ambec teve um crescimento estrondoso nos descontos entre 2021 e 2022 — um aumento de mais de 11 milhões por cento, passando de R$ 135 em 2021 para quase R$ 15 milhões em 2022. O relatório do Coaf confirma que esse crescimento continuou nos anos seguintes.

Entre dezembro de 2023 e abril de 2025, a Ambec recebeu os valores em três grandes etapas: R$ 242,4 milhões, R$ 23,4 milhões e R$ 128,7 milhões, respectivamente. O valor de R$ 23,4 milhões foi depositado em uma única transação.

O dinheiro recebido em uma conta no Bradesco foi transferido principalmente para outra conta da Ambec no Itaú, totalizando movimentações de R$ 112,9 milhões entre agosto de 2023 e abril de 2024, e mais R$ 82,6 milhões entre janeiro e junho de 2025.

Segundo o Coaf, a movimentação financeira não condiz com a capacidade financeira da Ambec, sugerindo que parte da renda pode estar informal ou vir de atividades não declaradas, além da possibilidade de ocultação fiscal.

O relatório também indica que algumas contas da entidade apresentaram créditos e débitos incomuns para o ramo de atividade da cliente.

Empresas relacionadas a Maurício Camisotti tiveram repasses da Ambec, entre elas a Rede Mais Saúde, gerida pelo filho de Camisotti, Paulo Otávio Montalvão Camisotti, que recebeu R$ 59,9 milhões, e a Prospect Consultoria Empresarial, ligada a Antonio Carlos Camilo Antunes, com R$ 16,1 milhões em repasses.

Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, é apontado como operador do esquema e já prestou depoimento à CPI negando irregularidades, afirmando que sua empresa sempre agiu dentro da lei.

A defesa de Camisotti afirmou que sua empresa prestou apenas serviços administrativos e tecnológicos para a Ambec, sem envolvimento na captação ou gestão dos associados, e que não recebeu vantagens indevidas.

A Rede Mais Saúde declarou que os valores pagos foram por serviços como descontos em consultas, exames e telemedicina, e informou que cancelou contratos com a Ambec após a operação da Polícia Federal.

Os dois investigados estão presos desde 12 de setembro, após decisão do Supremo Tribunal Federal que confirmou a prisão por tentarem atrapalhar as investigações sobre os descontos ilegais em benefícios previdenciários.




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