São Paulo, 24 – O Banco Central do Brasil deve manter sua política monetária restritiva por um tempo prolongado, o que, junto com o aumento das tarifas comerciais aplicadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, provocará um crescimento nos casos de empresas que não conseguem pagar suas dívidas neste ano e no seguinte. Conforme o Relatório Global de Insolvências da Allianz Trade, especialista mundial em seguro de crédito, as falências de empresas no Brasil devem crescer 17% em 2025, chegando a 4.150 casos.
Para 2026, a previsão indica mais um aumento de aproximadamente 7%, alcançando o maior nível em 20 anos, com mais de 4.400 casos. Somente em 2027, os economistas da Allianz Trade esperam que essa tendência se inverta, com uma queda de 8% nas insolvências.
O relatório também prevê as falências de empresas em todo o mundo, mostrando taxas menores que as do Brasil. Globalmente, espera-se um aumento de 6% em 2025, seguido por mais 5% em 2026, marcando o quinto ano consecutivo de alta nas insolvências. Para 2027, a projeção aponta uma leve redução de 1%.
No Brasil, o crescimento maior das insolvências se deve à atividade econômica ainda fraca, que não compensa a pressão sobre as finanças das empresas, decorrente dos altos custos para obter crédito, impostos pela política monetária restritiva, além dos custos com mão de obra.
O estudo destaca que os impactos variam conforme o setor econômico. O setor de serviços, como comunicação e transporte, está em melhor situação que o agrícola, afetado por seca severa, e do que a indústria e construção. Setores expostos às tarifas americanas, como alumínio, aço, café e carne bovina, também enfrentam mais dificuldades.
Impacto das tarifas e riscos prolongados
Segundo o relatório, as tarifas impostas pelos EUA, com uma taxa efetiva prevista para chegar a 14% até o fim do ano, afetam as empresas de forma diferente. Economistas da Allianz Trade indicam que as empresas americanas estão relativamente protegidas, beneficiando-se da adaptação dos preços pelos exportadores e da realocação de mercadorias através de países terceiros, como Índia e Vietnã. Isso tem ajudado a limitar custos e evitar falências. Contudo, se o comércio global desacelerar, países dependentes das exportações poderão sentir o impacto.
Maxime Lemerle, analista líder de Pesquisa de Insolvências da Allianz Trade, comenta que “no primeiro semestre de 2025, os efeitos protetores das tarifas ajudaram a reduzir insolvências nos EUA em 4 pontos percentuais, com a demanda forte compensando boa parte dos efeitos negativos. Mas as economias voltadas à exportação devem enfrentar mais falências.”
No pior cenário, o Canadá poderia registrar mais de 1.900 empresas insolventes, a França 6.000, a Espanha até 2.900 e a Holanda 700.
Lemerle ainda ressalta que países como Alemanha, Reino Unido, Itália e Bélgica devem ser menos afetados, graças à diversidade de seus mercados de exportação, uma base econômica interna maior e condições financeiras mais sólidas.
