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domingo, 17/08/2025

Influencer abusada por dentista: “Dor que não desejo a ninguém”

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Dois anos após o ocorrido, a influencer que denunciou o cirurgião-dentista Gustavo Chiovatto Najjar decidiu se pronunciar publicamente pela primeira vez sobre o caso. O abuso aconteceu em 17 de agosto de 2023, no consultório do profissional, localizado em um shopping no centro de Brasília.

“O que me motivou na época a denunciar foi a esperança de que ele jamais faria isso com outra pessoa. Porém, é extremamente frustrante e doloroso perceber que mesmo após todo o processo criminal, e uma aparente vitória, nada muda. Para o agressor, parece que nada acontece, mas para a vítima, tudo se transforma”, relatou a jovem, que preferiu manter sua identidade em sigilo.

O dentista foi condenado a seis anos de prisão em 2024 pelo estupro, porém seu registro profissional permanece ativo no Conselho Regional de Odontologia do Distrito Federal (CRO-DF). Apesar das denúncias de outras sete mulheres por importunação sexual contra ele, ele continua atendendo na mesma clínica onde ocorreram os abusos.

A 3ª Vara Criminal de Brasília do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios decretou a pena em regime semiaberto, mas o recurso da defesa ainda aguarda julgamento e o processo corre em sigilo.

Em vídeo divulgado pelo empresário e dentista Iran Maldi, a vítima expressou seu sentimento de impunidade e declarou que sua vida mudou radicalmente após o ocorrido: “Você não vive, apenas sobrevive. Vive amedrontada até para ir ao mercado, para andar na rua. Esse medo não é só pelo que podem fazer com você, mas pelo que podem fazer com quem você ama”.

Desde então, ela vive isolada, sem trabalho, estudos ou vida social, usando uma residência e aparelhos em nome de terceiros devido ao medo constante. “Essa dor e tortura eu não desejo a ninguém. A injustiça e a impunidade machucam profundamente”, afirmou.

O contraste entre sua vida marcada pelo medo e a do autor, que aparentemente segue sua vida sem restrições, intensifica seu sofrimento. “É difícil ver pessoas boas sendo punidas por pequenos delitos enquanto quem comete crimes graves permanece livre.”

Como ocorreu o crime

Gustavo tornou-se conhecido em 2023, quando a influencer, através das redes sociais, foi convencida a realizar uma avaliação para um procedimento de harmonização facial. No consultório, já ao fim do expediente, o dentista pediu para analisar o corpo dela, alegando necessidade para o procedimento. Durante essa análise, ele tocou de forma inadequada, chegando a agredi-la fisicamente e posteriormente estuprá-la.

Em desespero, a vítima tentou resistir e gritou por socorro, porém não havia mais pessoas no local. Após o abuso, Gustavo conversou normalmente sobre procedimentos estéticos como se nada tivesse acontecido. A vítima registrou a ocorrência pouco depois, acompanhada por familiares.

Exames genéticos confirmaram a autoria e a vítima apresentava lesões compatíveis com violência sexual. Após prisão temporária e liberdade provisória, a defesa nega as acusações. O juiz responsável considerou as provas suficientes e destacou imagens que mostravam a aflição da mulher.

Outras sete mulheres também procuraram a polícia para denunciar o autor, sendo quatro de forma anônima.

Trâmite no Conselho Regional de Odontologia

Segundo o Código de Ética Odontológica, o Conselho pode abrir processos éticos por iniciativa própria ou mediante denúncias. No entanto, apesar das denúncias e da condenação criminal, o CRO-DF ainda não iniciou nenhuma investigação ética contra Gustavo. Tampouco foram feitas suspensões do seu registro ou restrições ao exercício da profissão.

Fontes internas revelaram que nem o Ministério Público nem as vítimas acionaram formalmente o Conselho, e que a autarquia optou por não agir oficiosamente, alegando falta de base legal sem o processo judicial concluído e o sigilo do caso.

O CRO-DF declarou que sem provocação formal e sem acesso aos documentos sigilosos, não poderia abrir processo que poderia expor a vítima a novo constrangimento. Além disso, o magistrado da sentença não aplicou restrições ao exercício profissional do condenado, o que limita as ações do Conselho.

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