LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ
As previsões para a inflação acumulada em 2025 no Brasil estão em queda. Segundo economistas, essa redução está ligada a fatores como a desvalorização do dólar e a queda dos preços de alguns produtos agrícolas.
O boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, mostra que a mediana das projeções do mercado financeiro para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deste ano vem caindo por dez semanas seguidas. A previsão passou de 5,5% em maio para 5,07% no início de agosto.
Isso indica que o mercado espera um aumento menor nos preços até o final de 2025, embora ainda acima do limite superior da meta de inflação que o Banco Central tenta atingir, que é 4,5%.
“As expectativas melhoraram, há sinais de que o IPCA pode desacelerar, mas ainda não é um cenário seguro para a inflação”, explica o economista Fábio Romão, da consultoria 4intelligence.
Ele destaca possíveis riscos, como pressão na conta de luz até o fim do ano e o aumento na demanda por serviços com a recuperação do mercado de trabalho.
Para tentar controlar essa demanda e conter a inflação, o Banco Central elevou a taxa básica de juros, a Selic, para 15% ao ano.
Romão atualizou sua previsão do IPCA para 2025 para 5,2%, uma queda em relação à estimativa anterior de 5,5%, devido a uma combinação de fatores.
Primeiro, houve uma queda nos preços dos produtos agrícolas, devido a melhores condições de safra.
Além disso, ele menciona que a gripe aviária registrada no Brasil e a expectativa de aumento das tarifas nos Estados Unidos causaram uma queda temporária nos preços de produtos como carne de frango e bovina.
Segundo o economista, a redução do dólar também ajuda a diminuir o preço dos bens industriais. A moeda americana caiu cerca de 12% no ano, ficando abaixo de R$ 6.
O economista André Braz, do FGV Ibre, observa que a pressão sobre o câmbio parece estar diminuindo e destaca que os preços dos insumos para os produtores estão caindo.
O IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo), divulgado pela FGV, caiu nos últimos três meses com dados disponíveis: maio, junho e julho. Essa queda sugere que haverá repasse de redução para toda a cadeia, chegando ao consumidor final.
Braz acredita que o IPCA pode fechar o ano com alta de 4,8%.
“Se a situação continuar assim, e o câmbio se mantiver estável, com valorização do real, essa chance aumenta”, comenta.
Mesmo assim, ele alerta que o cenário ainda tem incertezas, especialmente sobre possíveis mudanças na política de tarifas do governo dos EUA.
O presidente americano impôs uma sobretaxa de 50% para produtos brasileiros, e não se descarta o risco de novas ações semelhantes. “Ainda teremos desafios pela frente”, afirma.
O economista Leonardo Costa, do Asa, que trabalha no setor financeiro, aponta o alto nível de incerteza para a inflação no Brasil por conta da guerra comercial.
Segundo ele, pode haver excesso interno de produtos tarifados, como carnes, café e frutas, o que pode levar à queda nos preços. Porém, a maior incerteza pode causar pressão cambial e aumentar o IPCA.
Costa estima a inflação em 4,9% para 2025, menos que os 5,2% previstos antes.
O IPCA subiu 5,35% nos 12 meses até junho, o que é o primeiro estouro da meta contínua de inflação desde que o novo modelo foi adotado, em janeiro.
Neste sistema, a meta é considerada descumprida quando o acumulado fica fora do intervalo de 1,5% a 4,5% por seis meses seguidos. O centro da meta é 3%.
O IBGE divulgará o IPCA de julho na terça-feira, dia 12.