Faltando aproximadamente um mês para o Dia das Crianças, a alta da inflação tem gerado preocupação no segmento de brinquedos, conforme apontam especialistas do varejo.
Ulysses Reis, especialista em varejo da Strong Business School e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), destaca que o aumento dos preços reduz o poder de compra, o que pode levar muitos pais ou responsáveis a evitarem gastar muito com presentes para a data comemorativa.
“Por se tratar de uma data importante para as crianças, a maioria dos pais continuará comprando presentes, porém optando por opções mais econômicas”, analisa o professor.
Ele ainda ressalta que vários fatores vão impactar negativamente as vendas na semana do Dia das Crianças, entre eles a inflação, a elevação da taxa de juros e o aumento do desemprego. De acordo com Reis, diante do cenário econômico desfavorável, tanto vendedores quanto consumidores tendem a se retrair.
“Provavelmente haverá menor oferta de brinquedos e os pais evitarão compras a prazo, como no cartão de crédito, optando por produtos mais baratos”, explica.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que as vendas no varejo encolheram pelo quarto mês seguido em julho, registrando uma queda de 0,3% em comparação ao mês anterior. Ainda conforme o IBGE, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, registrou alta de 0,40% nas despesas pessoais, categoria onde brinquedos estão inclusos, no mês de agosto.
No acumulado do ano, o IPCA cresceu 3,15%, chegando a 5,13% nos últimos 12 meses, ultrapassando o teto da meta de inflação, que é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Contudo, a categoria que reúne brinquedos e outros artigos pessoais e domésticos apresentou crescimento de 1,5% em comparação ao mesmo período do ano anterior, o que pode indicar uma retoma econômica no setor.
O IPCA, calculado pelo IBGE desde 1979, é utilizado pelo Banco Central para ajustar a taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 15% ao ano. Ele acompanha a variação mensal dos preços de uma cesta ampla de produtos e serviços em áreas urbanas do país.
Para Synésio Costa, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedo (Abrinq), a inflação sempre afeta as vendas, mas o brinquedo continua sendo um item valioso nas famílias. Ele acredita que mesmo as crianças em situações mais vulneráveis não ficarão sem presentes, que poderão ser garantidos por programas sociais dos municípios ou entidades assistenciais.
Costa comenta que o período do Dia das Crianças costuma representar cerca de 35% das vendas anuais do setor de brinquedos, que projeta um crescimento entre 3,5% e 5% para 2025, alcançando faturamento próximo de R$ 12 bilhões.
Já o professor da FGV alerta que o setor pode ser afetado por mudanças no comportamento do consumidor, com os pais optando por presentes mais acessíveis e possivelmente comprando em estabelecimentos diferentes dos habituais.
“Se antes os pais podiam dar um smartphone mais caro, agora poderão escolher modelos mais simples ou substituir por brinquedos mais econômicos, adquiridos até mesmo em varejos de preços mais baixos”, explica.
Ainda sobre pontos de venda, embora o comércio eletrônico tenha crescido significativamente, ultrapassando R$ 1 bilhão em receita entre pequenas e médias empresas no primeiro trimestre de 2025, e a expectativa seja crescer cerca de 10% neste ano, Reis destaca que a taxação sobre importações elevou custos, fazendo o consumidor preferir comprar de sites nacionais ao invés do exterior.
Além disso, ele ressalta que para crianças pequenas, a compra em lojas físicas pode ser preferida pelos pais, por oferecer maior segurança para avaliar os produtos e evitar riscos à saúde dos pequenos.
Outro aspecto importante é que o Dia das Crianças não envolve exclusivamente a compra de brinquedos, mas também de eletrônicos, roupas e acessórios, e isso tem modificado o perfil das vendas, com lojas especializadas em brinquedos tendendo a diminuir em favor de comércio online e lojas de departamentos.
O Dia das Crianças é visto pelos especialistas como um indicador de como será o desempenho do comércio no Natal. Se as vendas forem boas, os varejistas tendem a ampliar os pedidos para o final do ano, caso contrário, haverá compras mais contenidas e foco em produtos mais baratos.
Reis ainda aponta que a Black Friday influenciou a antecipação das compras natalinas, com muitos consumidores preferindo adquirir presentes em novembro para aproveitar preços melhores, alterando o comportamento tradicional das vendas de fim de ano.
Para Synésio Costa, o Natal representa cerca de 30% das vendas do setor de brinquedos, um percentual menor do que o obtido no Dia das Crianças, e essa data contribui para consolidar os resultados financeiros do ano no segmento.