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sexta-feira, 27/06/2025




Indústrias farmacêuticas querem banir remédio similar ao Ozempic de farmácias manipuladas

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Em Brasília

JOANA CUNHA
FOLHAPRESS

Ao acessar o site da farmácia de manipulação FSL Farma em busca de produtos para emagrecimento à base de semaglutida, o visitante encontra cápsulas sublinguais sem nenhuma menção ao medicamento original, Ozempic, da Novo Nordisk. No site da Formulados Farma, é oferecida uma versão da tirzepatida, presente no Mounjaro, medicamento da Eli Lilly.

A comercialização dessas versões manipuladas dos agonistas GLP-1 tem causado preocupação entre médicos, devido aos riscos para a saúde. Porém, a questão tomou um viés econômico, com o setor farmacêutico se posicionando contra a concorrência das farmácias de manipulação.

Em maio, o sindicato Sindusfarma enviou à Anvisa denúncias contra diversas farmácias que estariam vendendo e anunciando esses produtos ilegalmente. Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma, afirma que tais estabelecimentos praticam concorrência desleal e vendem produtos sem os mesmos padrões de segurança exigidos para medicamentos industriais.

Segundo o sindicato, os fornecedores usados por esses manipuladores não possuem as certificações exigidas para a importação no Brasil, diferentemente das indústrias instaladas nacionalmente. Mussolini informou que está analisando levar o caso à Justiça.

De acordo com o Sindusfarma, a fiscalização da Anvisa não consegue acompanhar a produção e circulação desses produtos manipulados.

“Não somos contra as farmácias de manipulação, mas exigimos que sigam as mesmas regras da indústria farmacêutica”, reforça Mussolini.

A Interfarma, entidade que representa grandes multinacionais do medicamento, defende a proibição total da manipulação desses agonistas GLP-1.

Levantamentos recentes indicam que o volume de insumos importados permite a fabricação irregular em escala industrial de milhões de unidades desses produtos, sem relação com os detentores das patentes.

O Sindusfarma destaca que algumas farmácias manipulam em escala imprópria, realizando publicidade inadequada e ofertando produtos com diferentes dosagens prontas para venda direta, o que não condiz com a necessidade médica de individualização da dosagem.

A Biofarma, uma das empresas citadas, declarou que produz apenas mediante pedidos personalizados e que não possui capacidade para produção em larga escala. Também afirmou ter retirado a semaglutida do estoque e não tê-la mais disponível.

Outras farmácias como Citrus e Unic Pharma indicam que o estoque de semaglutida está esgotado em seus sites.

A Formulados Farma reafirmou seguir as normas legais e acredita que a coexistência com a indústria é possível, desde que todos respeitem a legislação.

O presidente da Interfarma, Renato Porto, opina que a recente exigência de retenção de receita para vendas desses medicamentos não é suficiente para resolver o problema. “O uso em farmácias de manipulação traz riscos, pois esses produtos devem ser fabricados industrialmente. A personalização não é justificável nesse caso”, afirma.

A reclamação da indústria se estende a outros medicamentos populares, como os indicados para disfunção erétil e hormônios, que também foram denunciados.

A Anvisa informou que está colaborando com as vigilâncias sanitárias locais para fiscalizar farmácias e importadores, mas não divulgou detalhes por ainda estarem em andamento as ações.

Recentemente, a agência proibiu lotes de semaglutida e tirzepatida de duas empresas após inspeções.

A Novo Nordisk, titular da patente da semaglutida no Brasil até 2026, alerta que não existem versões manipuladas ou genéricas aprovadas pela agência reguladora e que a fabricação desses produtos é uma cópia ilegal que infringe patentes.

Já a Lilly, proprietária da patente da tirzepatida, afirma não fornecer insumos para farmácias de manipulação ou clínicas e que tomará medidas legais contra alegações falsas de vendas de seus produtos sem aprovação.

A Associação Nacional Magistral de Estéreis (ANME) declarou que a manipulação magistral é regulamentada e que orienta suas associadas a cumprirem as normas, destacando que qualquer desvio de conduta não representa a prática ética da associação.




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