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terça-feira, 19/08/2025

Indústria prevê crescimento mais fraco em 2025 devido a tarifaço

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Em meio à imposição de uma taxa de 50% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, a indústria do Brasil espera um crescimento reduzido para o ano de 2025. Segundo o Informe Conjuntural do segundo trimestre, divulgado em 19 de agosto pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) do setor foi revisada de 2% para 1,7%.

Tarifaço

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, oficializou em 31 de julho a cobrança da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados ao país norte-americano. Na prática, esta tarifa é composta por uma alíquota inicial de 10%, anunciada em abril, acrescida de mais 40%. Entretanto, cerca de 700 produtos ficaram de fora da sobretaxa adicional de 40%, incluindo suco de laranja, aeronaves, castanhas, petróleo e minérios de ferro. Esses produtos sujeitos apenas à taxa inicial de 10% começaram a ser tributados a partir de 6 de agosto.

Enquanto a indústria sofre um desaquecimento, o setor agropecuário é esperado para sustentar grande parte do crescimento econômico, com sua previsão de expansão elevada de 5,5% para 7,9%, impulsionada por uma safra recorde, maior produção animal e condições climáticas favoráveis.

Com o mercado de trabalho aquecido, a agropecuária contribuirá para manter a estimativa de crescimento do PIB brasileiro em 2,3% para 2025, o que representa o crescimento mais baixo em cinco anos.

O diretor de Economia da CNI, Mário Sérgio Telles, destaca que a composição do crescimento econômico para 2025 não é tão positiva quanto em anos anteriores. Segundo ele, setores diretamente ligados ao ciclo econômico, como indústria e serviços, têm mostrado sinais de desaceleração. Mesmo com uma safra maior e mercado de trabalho aquecido, o crescimento generalizado está enfraquecido.

Impacto nas exportações

Entre janeiro e julho, o volume de exportações brasileiras apresentou um crescimento de 2%, mas os preços dos produtos caíram em 2%, mantendo o valor total exportado em cerca de US$ 198 bilhões, próximo ao valor do mesmo período em 2024.

No mesmo período, a indústria de transformação exportou US$ 19 bilhões para os Estados Unidos, um aumento de 7%, influenciado principalmente pela antecipação de compras das empresas americanas devido à nova política comercial.

Por conta deste cenário, a CNI reduziu a previsão para exportações de US$ 347,3 bilhões para US$ 341,9 bilhões em 2025, uma diminuição de US$ 5,4 bilhões. A balança comercial deverá apresentar um superávit de US$ 56,6 bilhões, 14% inferior ao superávit registrado em 2024. As importações também devem crescer para US$ 285,2 bilhões, devido à maior compra de bens intermediários e de capital.

Desempenho da indústria

A queda na previsão de crescimento da indústria é liderada pela indústria de transformação, que teve um aumento de 3,8% em 2024, mas registrou retração no primeiro semestre de 2025, com previsão de crescer apenas 1,5% no ano, abaixo do anterior 1,9%. Os fatores que impactam negativamente o setor incluem juros altos, maior concorrência de produtos importados e queda esperada nas exportações.

Mário Sérgio Telles ressalta que, mesmo com programas como a Nova Indústria Brasil e a depreciação acelerada, os desafios econômicos internos e externos restringem o crescimento do setor.

Por outro lado, a indústria da construção mantém a expectativa de crescimento em 2,2%, impulsionada pela continuidade de obras iniciadas em 2024 e pelo programa Minha Casa, Minha Vida, que registrou um aumento nos lançamentos. A indústria extrativa teve sua previsão de crescimento dobrada, de 1% para 2%, graças ao avanço na produção de petróleo. Setores como eletricidade, gás, água, esgoto e resíduos mantêm previsão de alta em 2,5%.

Serviços e mercado de trabalho

O setor de serviços deve manter um crescimento moderado de 1,8% em 2025, apoiado pela evolução positiva do emprego e renda real. A CNI prevê aumento de 1,5% na ocupação e de 5,5% na massa salarial dos trabalhadores, com a taxa de desemprego mantendo-se em torno de 6%, o menor nível da série histórica.

Inflação, juros e crédito

Até julho, a inflação acumulada em 12 meses medida pelo IPCA foi de 5,2%, com expectativa de recuo para 5% até o final do ano, ainda acima da meta central de 3%. A taxa básica de juros (Selic) deverá permanecer em 15% ao ano até dezembro, enquanto o crédito deve crescer 5,8% em 2025, percentual menor que os 10,6% observados em 2024.

Contas públicas e dívida

O governo federal pode fechar 2025 com um déficit primário estimado em R$ 22,9 bilhões, equivalente a 0,2% do PIB, dentro da meta prevista. As despesas primárias devem subir 3,3%, enquanto a receita líquida aumentará 2,2%. No entanto, a dívida bruta do país continuará em ascensão, passando de 76,5% para 79% do PIB.

Medidas do governo para setores afetados

Recentemente, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou um pacote de apoio direcionado aos setores econômicos mais impactados pelo tarifaço, conhecido como Brasil Soberano. Entre as ações previstas na Medida Provisória estão linhas de crédito de R$ 30 bilhões para pequenos produtores prejudicados pela alta tarifária, além de diversas outras medidas para mitigação dos impactos.

A Medida Provisória tramita no Congresso através de uma comissão mista que avaliará o texto. Após aprovação no colegiado, a medida precisa passar pelos plenários da Câmara e do Senado, sendo que, se não aprovada em 120 dias, perde a validade.

Dentre os principais pontos do pacote estão:

  • Fundo de Garantia à Exportação (FGE): ampliado para atender todo o setor exportador do Brasil, não só os segmentos ligados ao tarifaço.
  • Seguro para Exportações: garantia para pequenos produtores operarem em mercados internacionais.
  • Compras governamentais: aquisição de excedentes de pequenos produtores para uso em programas sociais como merenda escolar e alimentação de pessoas privadas de liberdade.
  • Ampliação do programa Reintegra: micro e pequenas empresas exportadoras terão acesso a recuperação de até 6% dos tributos pagos, com a medida válida até o final de 2026.

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