Adiar o término das conferências climáticas não é algo inédito, e a COP30 provavelmente seguirá esse padrão. Um incêndio na Blue Zone da COP30 em Belém (PA) na tarde de quinta-feira (20/11), junto com atrasos em negociações delicadas, deve resultar no atraso do encerramento que estava marcado para sexta-feira (21/11).
Os atrasos em conferências climáticas já ocorreram antes: a COP8 na Índia em 2002 ultrapassou o prazo devido a impasses; a COP25 em Madri terminou quase dois dias depois do esperado; e a COP27 no Egito só encerrou após a madrugada.
Encerramento poderá ser estendido após incêndio e negociações apertadas
Sexta-feira promete ser um dia movimentado em Belém com o reinício das negociações. Na quinta, a área oficial de negociações foi evacuada por volta das 14h20 depois que um curto-circuito causou fogo no pavilhão dos países. Vídeos postados nas redes sociais mostraram chamas e fumaça se espalhando rapidamente, enquanto participantes saíam do local e outros ajudavam a controlar o incêndio.
A pronta atuação das equipes de segurança conseguiu conter o fogo, mas parte da estrutura ficará interditada até o fim incerto do evento. Vinte e uma pessoas necessitaram de atendimento médico: dezenove por inalação de fumaça e duas por crises de ansiedade, conforme informado pelo Centro Integrado de Operações Conjuntas da Saúde (Ciocs). Até o fim do dia, doze pessoas já receberam alta e as demais permaneciam sob observação.
A UNFCCC confirmou que a área afetada permanecerá isolada por alguns dias e agradeceu a cooperação dos participantes diante do ocorrido.
A Blue Zone só reabriu na noite de quinta após inspeção do Corpo de Bombeiros e concessão de novo alvará. Contudo, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) suspendeu todas as sessões plenárias do dia e informou que as negociações serão retomadas na sexta-feira.
Negociações enfrentam dificuldades
A segunda semana da COP30 começou com desafios. Apesar de alguns avanços técnicos, o ambiente entre as delegações permanece cauteloso.
Na área de adaptação climática, os países conseguiram definir uma lista de 114 indicadores para o Objetivo Global de Adaptação (GGA), abrangendo sistemas de alerta precoce, saúde, infraestrutura e planejamento urbano. No entanto, continuam as divergências sobre os meios para implementar essas medidas, como financiamento e apoio institucional.
Sobre a transição justa, o novo rascunho do Programa de Transição Justa (JTWP) avançou incluindo pela primeira vez no debate termos como “combustíveis de transição” e “subsídios ineficientes a fósseis” e incorporando salvaguardas para povos indígenas, mulheres, jovens, afrodescendentes, trabalhadores informais e pessoas com deficiência. Estes pontos destacam a urgência de uma transição energética inclusiva, mas ainda não há consenso para estabelecer metas mais rigorosas de eliminação dos combustíveis fósseis.
No financiamento climático, foram feitos progressos na discussão para ampliar os recursos do Fundo de Adaptação, que deve ser financiado por parte das receitas do mercado de carbono. Contudo, não há acordo sobre governança e implementação, aspectos essenciais para finalizar o pacote.
Em temas mais complexos, especialmente no que tange ao futuro dos combustíveis fósseis, quase não houve progresso. Países produtores resistem em aceitar a menção explícita à eliminação gradual do petróleo, gás e carvão, o que empurra decisões para as fases finais da conferência, aumentando a probabilidade de prolongamento do evento.
