MAELI PRADO
FOLHAPRESS
Com juros altos e dívidas aumentando, especialmente entre famílias de baixa renda, a inadimplência no cartão de crédito rotativo ultrapassou 60%. Ao mesmo tempo, o total emprestado nessa modalidade bateu recorde, superando todos os valores vistos em 2023.
Em agosto, o valor devido no rotativo chegou a R$ 79,4 bilhões, conforme dados recentes do Banco Central, um crescimento de 30,8% em relação a dezembro de 2024, muito maior que o aumento médio de 7% no crédito ao consumidor.
O retorno do crédito mais caro do mercado a esse nível recorde, com taxas que ultrapassam 450% ao ano, é causado pelo aumento dos juros e pelo crescimento da inadimplência acima de 90 dias. Essa combinação faz com que mais pessoas fiquem com dívidas difíceis de pagar.
No cartão parcelado, a inadimplência subiu de 11,5% para 13,2% no último ano; no crédito rotativo, aumentou de 55,4% para 60,5% no mesmo período.
Essa piora acontece principalmente entre os de baixa renda, conforme levantamento da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), baseado em dados do Banco Central.
Em dezembro de 2024, a inadimplência geral da população com renda até três salários mínimos estava em 5,4% e subiu para 6,7% em junho deste ano, embora não haja dados específicos para o rotativo.
O aumento é menor nas faixas de renda superiores: entre três e dez salários mínimos, a inadimplência foi de 4% para 4,1%; acima de dez salários mínimos, de 2,3% a 2,7%. Esses números consideram todos os empréstimos a pessoas físicas, com exceção do crédito rural.
Também foi observado crescimento da relação crédito/PIB para aqueles com até três salários, passando de 9% em 2023 para 9,6% em 2025.
Rubens Sardenberg, diretor da Febraban, explica que essa faixa de renda tem tomado mais crédito, o que a deixa vulnerável em um cenário de juros altos.
Além disso, ele destaca a alta dos preços dos alimentos e a inflação persistente nos serviços, que dificultam a situação financeira, levando muitos a buscar opções de crédito arriscadas.
Uma mudança recente nas regras de provisão para inadimplência dos bancos também contribuiu para o aumento, mas tem impacto pequeno. O principal motivo é o atual ambiente econômico.
Isabela Tavares, especialista em crédito da Tendências Consultoria, lembra que o cheque especial, outra linha emergencial, também tem crescido em 2025, embora menos do que o rotativo, crescendo 10% desde o fim de 2024.
Ela destaca que ambas as modalidades são usadas por quem enfrenta dificuldades financeiras e alta inadimplência, devido aos juros elevados e à dificuldade de pagar dívidas.
O crédito parcelado também cresceu muito nos últimos anos, a dois dígitos desde 2021.
O aumento dos preços de itens essenciais, como alimentos, energia, combustíveis e serviços de saúde, está acima da inflação geral, causando perda do poder de compra e dificultando a quitação das dívidas.
Everton Gonçalves, diretor da ABBC (Associação Brasileira de Bancos), comenta que em 2025 as modalidades de cartão rotativo, parcelado e cheque especial estão ganhando mais espaço em relação às modalidades de crédito de longo prazo, que são mais planejadas.
Ele alerta que esse aumento é preocupante, pois os níveis de endividamento e comprometimento financeiro estão perto do pico histórico.
O crescimento da dívida rotativa veio após um período de queda em 2024, quando entrou em vigor uma regra que limita o pagamento de juros nessa modalidade para não exceder o valor da dívida original.
Essa medida ajudou, mas os juros do crédito parcelado, mesmo sendo menores que os do rotativo, subiram e pressionam o orçamento das famílias.
A especialista da Tendências prevê que a inadimplência deve começar a melhorar no final de 2025 e em 2026, embora os juros ainda continuem altos. As renegociações de dívidas feitas no final do ano podem ajudar a reduzir a inadimplência.
