DIEGO FELIX
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Em julho, 22,1% das famílias de São Paulo estavam com dívidas atrasadas, o maior índice desde abril de 2024, segundo pesquisa da FecomercioSP. A pressão dos juros e da inflação tem afetado o orçamento das famílias, mas a situação não é ainda pior graças ao baixo desemprego e ao fato de que as dívidas são geralmente de curto prazo.
Isso representa cerca de 905,7 mil famílias inadimplentes na cidade, um aumento em relação a 19,9% registrado no mesmo período do ano anterior.
A pesquisa da FecomercioSP divide as famílias em dois grupos conforme a renda. Entre aquelas que ganham até dez salários mínimos, a inadimplência subiu de 26,1% para 26,5% em julho; já nas famílias com renda superior a esse valor, o índice foi de 10,5% para 11,3%.
Para Guilherme Dietze, assessor econômico da federação, as famílias de renda baixa sofrem mais porque os custos com alimentação consomem quase 30% do orçamento, enquanto nas famílias de renda maior esse custo é de cerca de 20%.
O crédito financeiro, que ajuda a manter o consumo das famílias, está mais restrito, o que elevou o número de contas em atraso.
Por outro lado, a inadimplência não aumentou ainda mais devido ao desemprego baixo, que está em 6,2% no trimestre até maio, e à estabilização da inflação, que vem caindo desde fevereiro.
Guilherme Dietze comenta: “A taxa de inadimplência provavelmente não vai subir muito mais, porque o aumento recente foi causado pela inflação alta no começo do ano. Agora a inflação está mais controlada, principalmente com a queda nos preços dos alimentos. O emprego está forte, então o que piora agora são os juros.”
Atualmente, 9,1% das famílias não terão condição de pagar suas dívidas, ante 9% em junho e 8,2% há um ano. O tempo médio de atraso é de 62 dias.
ENDIVIDAMENTO EM QUEDA
A pesquisa também observa o endividamento das famílias, que inclui dívidas não atrasadas. Neste aspecto, houve uma leve redução de 71,4% para 70,9% em julho, o que equivale a cerca de 2,9 milhões de famílias.
O cartão de crédito continua sendo a principal fonte de dívida, presente em 80% das famílias que têm contas a pagar, seguido pelo financiamento imobiliário.
Guilherme Dietze explica que a queda no endividamento se deve a uma maior consciência das famílias sobre os gastos, especialmente com a taxa de juros em 15% ao ano. Compras importantes, como carros ou eletrodomésticos, são adiadas para evitar dívidas maiores.
Ele acrescenta: “O sistema financeiro também fica mais cauteloso com o aumento da inadimplência e restringe o crédito para famílias com maior risco, o que ajuda a conter o crescimento do endividamento.”
As dívidas comprometem 27% da renda das famílias em julho, o menor índice desde fevereiro. A Fecomercio considera ideal que este valor não ultrapasse um terço da renda.
Guilherme Dietze conclui: “O emprego é essencial. Temos a menor taxa de desemprego da história, o que mantém as famílias. Mesmo com dificuldades econômicas, é difícil para as empresas demitir por falta de substitutos. Isso ajuda a manter a renda, o consumo e as contas em dia, apesar dos desafios.”
IMPACTO DA GUERRA TARIFÁRIA
Até o momento, não é possível prever os efeitos da guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos sobre as famílias paulistas.
Se a sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros entrar em vigor na sexta-feira (1º), a Fecomercio acredita que, no curto prazo, a inadimplência não sofrerá grandes mudanças, devido ao alto nível de emprego.
Guilherme Dietze afirma: “Não vejo impacto das tarifas no curto prazo. Caso a tarifa aumente para 100% e se mantenha por seis meses, causando demissões e menos investimentos, isso mudaria o cenário. Por enquanto, estou cauteloso quanto às consequências.”