A aplicação do aumento tarifário imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que afeta cerca de 80 nações desde quinta-feira (7/8), é amplamente comentada nos principais jornais da França, que também analisam o impacto sobre o Brasil. Na quarta-feira (6/8), o Brasil foi incluído neste pacote, que elevou as tarifas em 50%, tornando-se um dos países mais penalizados.
Autoridades políticas, grupos de representação comercial e o governo brasileiro buscaram, até o último instante, negociar uma redução nas taxas aplicadas sobre mais da metade das exportações brasileiras para os EUA, sem sucesso, informa o jornal econômico Les Echos, destacando que a administração do caso envolvendo Bolsonaro contribuiu para esta punição.
A crescente tensão política e jurídica, especialmente após a determinação de prisão domiciliar do ex-presidente brasileiro, feita pelo ministro Alexandre de Moraes, pode comprometer futuras negociações relativas às tarifas que começaram a valer na quarta-feira, observa o correspondente do veículo em São Paulo.
O jornal Le Parisien critica a utilização de tarifas alfandegárias como instrumento político e qualifica a medida de Trump contra o Brasil como uma interferência. O presidente Lula classificou a ação como uma violação da soberania nacional e informou que Brasília protocolou uma consulta junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) questionando estas sobretaxas. Outros países, como Canadá e Índia, também foram afetados.
Um especialista consultado pelo diário aponta que, no começo do mandato, a guerra comercial do presidente visava agradar sua base eleitoral e aumentar a receita do governo. Atualmente, “ela atingiu outra escala, abrindo espaço para diversos abusos”, destaca Romuald Sciora, diretor do Observatório Político e Geoestratégico dos Estados Unidos do Instituto Francês de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris).
Grande parte do enfoque dos jornais franceses está nas consequências das tarifas americanas sobre produtos europeus. Le Figaro destaca na manchete que “A punição de Trump afeta a Europa”, mobilizando a entrada em vigor de tarifas de 15%. Contudo, a ausência de documentos oficiais detalhando o acordo entre Trump e a presidente da Comissão Europeia gera dúvidas sobre as especificações do pacto.
Le Parisien ressalta que a lista de produtos excluídos das sanções permanece incerta, especialmente no que tange a vinhos e destilados, que são essenciais para as exportações francesas.
O jornal Libération, de orientação progressista, expressa a preocupação das pequenas e médias empresas francesas do setor. Além disso, surpreendentemente, Trump ameaçou recentemente aumentar as tarifas sobre medicamentos europeus em até 250% no prazo de um ano.
Haviam dúvidas sobre semicondutores e chips, mas Trump anunciou uma tarifa de 100% para esses produtos, o que poderá encarecer ainda mais os medicamentos no mercado americano, avalia Le Parisien.
Essa política protecionista é vista como uma fonte expressiva de receita, porém um ônus econômico considerável, resume Les Echos. O jornal econômico comenta que as tarifas americanas atuais são as maiores desde a década de 1930, apontando que os Estados Unidos arrecadarão bilhões mensalmente, embora o crescimento econômico seja prejudicado e a inflação aumente.