Maeli Prado
FolhaPress
As compras feitas pelo Brasil de bens duráveis importados, como eletrodomésticos, eletrônicos e móveis, que vinham crescendo rápido, agora estão diminuindo. Isso indica que a economia está desacelerando, principalmente por causa dos juros altos.
Os números mostram que, em julho, as importações desses produtos caíram pela primeira vez desde novembro de 2023 em comparação ao ano anterior. Em agosto, as compras caíram de novo, e em setembro ficaram quase iguais ao ano passado, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Comércio, Indústria e Serviços (Mdic).
A maior parte desses produtos vem da China, que representa mais de metade das importações brasileiras de bens duráveis. Apesar das tarifas de 30% que os Estados Unidos impuseram à China, as compras do Brasil desse país caíram. Entre julho e setembro, o Brasil comprou 11,1% menos bens duráveis da China do que no ano passado, totalizando cerca de US$ 424 milhões.
O Brasil também comprou menos smartphones e refrigeradores da China nesse período. As importações de smartphones caíram 2,9% e as de refrigeradores reduziram 18,8% em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Lia Valls, pesquisadora da FGV/Ibre, explica que o ritmo alto de importações desacelerou por causa da economia mais fraca. Essa queda foi geral, acontecendo em todos os principais países que vendem bens duráveis ao Brasil. Por exemplo, as importações dos Estados Unidos caíram 27,8% em setembro.
Também houve queda nas importações de máquinas e equipamentos, que cresceram muito no ano passado, mas desaceleraram em 2025. Em setembro, houve um aumento devido à compra de uma plataforma de Singapura no valor de US$ 2,4 bilhões.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), confirma que a diminuição nas compras está ligada à desaceleração da economia causada pelos juros altos. A taxa básica Selic subiu de 10,5% para 15% ao ano desde setembro do ano passado.
Enquanto isso, as importações de bens não duráveis e semi duráveis, que dependem menos de crédito, aumentaram bastante em setembro, 46,7% e 9,3%, respectivamente, em relação ao ano passado.
José Augusto de Castro lembra que o Brasil comprou muitos produtos da China no ano passado e formou estoques elevados, o que ajuda a explicar a desaceleração atual nas importações. O mundo também está desacelerando, o que influencia as compras brasileiras. A China, que vendia caro antes, agora oferece preços mais baixos.
Dados recentes do Banco Central confirmam a fraqueza da economia: o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) caiu 0,5% em julho, marcando a terceira queda seguida.
Outro sinal de economia mais lenta vem do mercado de trabalho, que gerou apenas 147 mil vagas formais em agosto, o pior resultado para esse mês desde o início dos registros.