São Paulo, 22 – O Ibovespa começou a semana com uma pequena queda após alcançar vários recordes históricos na semana anterior, chegando a 146 mil pontos durante o dia. Nesta segunda-feira, 22, o índice fechou acima dos 145 mil pontos, mesmo após dificuldades que chegaram a superar 1% nas perdas durante a sessão. A queda ocorreu após notícias de que os Estados Unidos incluíram Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF), na Lei Magnitsky, acompanhada de restrições de visto para autoridades brasileiras, embora os nomes específicos não tenham sido divulgados.
O fechamento da bolsa registrou queda de 0,52%, aos 145.109,25 pontos, com variação entre 144.117,01 pontos e 145.863,86 pontos durante o dia e volume financeiro de R$ 20,6 bilhões. No mês, o índice acumula alta de 2,61% e, no ano, de 20,64%.
No campo econômico, poucas novidades surgiram, destacando-se apenas o Boletim Focus, que indicou uma leve redução na projeção do IPCA acumulado para os próximos 12 meses, fixando a previsão em 4,36%, abaixo do teto de 4,50%. As expectativas para 2025 e 2027 se mantiveram em 4,83% e 3,90% respectivamente, além da previsão para a Selic ao final de 2025 permanecer em 15% ao ano.
Na terça-feira, a agenda econômica terá mais movimentação com a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), além do IPCA-15 e do Relatório de Política Monetária (RPM) no Brasil. Nos Estados Unidos, o foco estará no Produto Interno Bruto (PIB) e no índice PCE, indicador preferido de inflação ao consumidor para o Federal Reserve.
De acordo com Camilo Cavalcanti, gestor da Oby Capital, a ata do Copom atrairá atenção especial, pois o comunicado da reunião anterior destacou a incerteza elevada do cenário econômico e a necessidade de cautela na definição da política monetária. A reação do mercado até agora tem sido considerada mais rígida do que o esperado, até a divulgação desta ata.
No pregão da B3, a retomada das perdas foi contida pelo bom desempenho das principais empresas de commodities, como Vale e Petrobras, que fecharam em alta. Os bancos registraram variações negativas mais moderadas no fechamento, após perdas profundas no início da sessão. Entre as maiores instituições, o Banco do Brasil caiu 0,51% e o Itaú PN 1,44%, enquanto o Bradesco teve um leve ganho.
As maiores altas do Ibovespa foram da Embraer, com +4,63%, impulsionada pela notícia da assinatura de um acordo pela Latam Airlines para aquisição de até 74 aeronaves da fabricante. Também se destacaram as ações da WEG, Rumo e Brava. Por outro lado, Cosan caiu 18,13% após acordo para aporte de R$ 10 bilhões, além de quedas significativas para Raízen, BRF, Natura e Marfrig.
dólar
O dólar subiu moderadamente nesta segunda, contrário à tendência geral da moeda americana no exterior. Os investidores mostraram cautela diante da possível intensificação das tensões entre Brasil e EUA antes do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia Geral da ONU.
Durante a manhã, o governo dos Estados Unidos anunciou sanções contra a esposa do ministro Alexandre de Moraes, bloqueando possíveis bens dela no país e revogando vistos de outras autoridades brasileiras.
No momento de maior pressão, o dólar à vista chegou a superar R$ 5,35, atingindo um máximo de R$ 5,3660, mas recuou ao longo da tarde junto com a queda do dólar no exterior, fechando a R$ 5,3381 com alta de 0,32%. Foi a quarta sessão consecutiva de alta após uma forte queda recente. O dólar acumula queda de 1,55% em setembro e de 13,63% no ano.
Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, explica que o movimento foi uma correção natural após forte valorização do real, impulsionada por melhores expectativas para o diferencial de juros. Ela avalia que o mercado está operando com cautela devido à agenda de indicadores econômicos, incluindo a ata do Copom e o IPCA-15, além da expectativa pelo discurso do presidente Lula na ONU.
O Ministério das Relações Exteriores respondeu às sanções com indignação, criticando o uso da Lei Magnitsky como interferência nos assuntos internos do Brasil. Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA, afirmou que as sanções têm objetivo de alertar contra ameaças aos interesses americanos.
O índice DYX, que mede o desempenho do dólar frente a moedas fortes, operou em baixa moderada, ao redor de 97.330 pontos ao final do dia. O dólar caiu contra a maioria das moedas emergentes, mas subiu levemente frente ao peso mexicano e chileno.
Entre dirigentes do Fed, houve divergência sobre política monetária: o presidente do Fed de St. Louis, Alberto Musalem, defendeu cautela e espaço limitado para cortes nas taxas; enquanto o diretor Stephen Miran sugeriu que juros deveriam estar entre 2% e 2,5%. A expectativa é de três cortes de juros neste ano, levando o BTG Pactual a reduzir projeção da taxa de câmbio para próximo ano.
Iana Ferrão, economista do BTG, destaca a diversificação das reservas internacionais e maior uso de instrumentos de hedge como fatores que diminuem a demanda por dólar, favorecendo o real pela maior diferença do juro doméstico e condições financeiras globais favoráveis.
juros
Os juros futuros subiram firmemente na segunda-feira, impulsionados pela piora da percepção sobre política e finanças públicas no Brasil. Protestos recentes foram interpretados como indicativo de melhor posicionamento da esquerda para as eleições de 2026, pressionando os riscos do mercado.
O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 aumentou para 14,05%, e outras taxas para anos seguintes também tiveram alta. O aumento ocorreu em meio a discussões no Congresso sobre aumento de gastos e novas sanções americanas contra autoridades brasileiras.
Manifestações de domingo contra propostas governamentais e a anistia de condenados pela tentativa de golpe foram vista como fortalecendo a esquerda, segundo Andrea Damico, fundadora da Buysidebrazil. A pressão fiscal também influenciou as altas nas taxas, com debates sobre isenção de imposto de renda para salários baixos e pacotes de ajuda a setores prejudicados por tarifas.
Dados do Boletim Focus indicam uma pausa na melhora das expectativas inflacionárias, com projeções de IPCA mantidas próximo de 4,83% para este ano e redução mínima para 2026. Federsl dirigentes americanos mostraram-se cautelosos em suas declarações, refletindo-se no aumento dos rendimentos dos títulos americanos (Treasuries).
Estadão Conteúdo