Mercado teme que segunda onda de contaminação faça com que economias voltem a ser fechadas
A bolsa brasileira tem forte queda, nesta segunda-feira, 15, após países que afrouxaram suas quarentenas apresentarem crescimento do número de casos de coronavírus. Nos Estados Unidos, alguns estados, como Flórida e Texas, registraram recordes de infectados no fim de semana. O aumento de casos tem aumento os temores do mercado sobre uma segunda onda de contaminação, que poderia levar o fechamento das economias mais uma vez. Às 13h19, o Ibovespa, principal índice de ações, caía 1,47% e marcava 91.432,34 pontos.
Apesar do ritmo de contaminação nos Estados Unidos ter voltado a crescer, autoridades econômicas do país descartam a novos isolamentos sociais mais rígidos. Depois de o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, ter afastado a possibilidade de mais um lockdown, foi a vez do diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Larry Kudlow, dizer que os EUA seguem reabrindo sua economia.
Mas além dos EUA, países asiáticos também voltam a registrar novos casos, após terem atingido um grau ainda maior de controle da doença. Esses foram os casos da China e da Coreia do Sul, que vêm enfrentando o aumento do contágio desde que experimentaram uma flexibilização das quarentenas. Na Coreia, bairros badalados se tornaram os principais focos da doença, enquanto na China, o maior mercado de alimentos de Pequim precisou ser fechado.
“A alta da bolsa entre abril e maio estava muito ligada à perspectiva de reabertura. Mas a perspectiva muda a partir do momento que que há tensão sobre uma segunda onda. As pessoas tinham ignorado essa possibilidade”, afirmou Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos.
“Como existe falta de informação muito grande [sobre a dinâmica do vírus], os movimentos mais bruscos. Ocorreu um excesso de otimismo no início retomada e começa a ajustar para um patamar mais conservador. O mercado está achando preço justo para o cenário atual. O problema é que ainda não se sabe como é o cenário atual”, comentou Álvaro Villa, economista da Messem Investimentos.
Marcel Zambello, analista da Necton Investimentos, já vê uma piora das perspectivas econômicas. “Se até semana passada se esperava uma recuperação em “V”, com essa questão da segunda onda, já se fala em recuperação em ‘U’ ou em ‘W’.”
Nesta segunda, os investidores globais também repercutem os dados da produção industrial chinesa de maio, que vieram abaixo das projeções. Com o país em plena recuperação, esperava-se que houvesse um crescimento de 5% na comparação anual, mas a expansão da produção industrial da China ficou em 4,4%, frustrando as expectativas do mercado.
“A China se tornou o principal país em termos de recuperação econômica. Se ela cresce menos, o impacto é global. As companhias que exportam para a indústria chinesa, como a Vale, são atingidas”, disse Esteter.
Nas últimas semanas, o mercado estava bastante otimista com os dados econômicos, que vinham surpreendendo positivamente os investidores. O pico da euforia se deu no fim da primeira semana de junho, quando o payroll dos Estados Unidos mostrou expansão do mercado de trabalho, enquanto todo mundo esperava um forte crescimento do desemprego. Mas, na semana passada, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, tratou de mitigar o otimismo, alertando que a recuperação econômica pode não se dar de forma tão acelerada quanto se previa.
No Brasil, também está no radar dos investidores a notícia sobre a saída do secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, tido como um dos fiadores do ajuste fiscal. Segundo informações de O Globo, o secretário pretende ir para o setor privado.
“O Mansueto teve uma contribuição gigantesca para a economia brasileira. Sua saída é negativa, mas não é traumática porque vai ter uma transição”, disse Villa.
Destaques
Em meio aos temores de uma segunda onda de contaminação, as ações de companhias aéreas voltam a apresentar fortes perdas. O setor é tido como um dos mais atingidos pelos efeitos da pandemia, já que os voos ajudam a transmitir a doença. Na bolsa, GOL e Azul se desvalorizavam-se 4,3% e 7,5%, respectivamente. Os papéis da agência de turismo CVC, que vive um cenário semelhante, recuam 8,8%.
Entre as ações com maior peso no Ibovespa, as ações da Petorbras caem cerca de 3% e pressionam o índice para baixo. No radar dos investidores está a revisão da projeção de longo prazo para os preços do barril de petróleo por parte da petroleira britânica BP, que espera um preço médio de 55 dólares ante o valor de 70 dólares esperado anteriormente.
Do lado positivo, os papéis da Cielo disparam mais de 30%, após a empresa anunciar uma parceria com o Facebook, envolvendo pagamentos via Whastsapp.