O Hospital de Apoio de Brasília (HAB), referência nacional em cuidados paliativos para pacientes com câncer e idosos, tem aumentado o carinho e atenção oferecidos, não só aos pacientes em estado delicado, mas também às suas famílias. Nesta semana, a equipe da Unidade de Cuidados Paliativos destacou a importância do apoio psicológico, social e emocional para quem acompanha o tratamento de um ente querido.
“Quando alguém fica muito doente, toda a família sofre junto. Ninguém passa por isso sozinho”, afirma Elisa Marquezini, chefe da unidade. A médica paliativista, que atua há oito anos no setor, ressalta a importância de cuidar das famílias, mesmo após o falecimento. “Oferecemos atendimento psicológico, suporte psiquiátrico e orientações pelo serviço social para garantir o acolhimento necessário durante todo o processo”, explica.
Os cuidados paliativos têm como objetivo aliviar a dor e o sofrimento, melhorando a qualidade de vida tanto dos pacientes em estágio avançado da doença quanto de quem cuida deles. A equipe do HAB é formada por médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, nutricionistas, fonoaudiólogos, farmacêuticos e dentistas.
Rede de apoio além do hospital
A psicóloga Flávia Nunes, também membro da unidade, destaca que muitos desafios do dia a dia de quem cuida acabam ficando invisíveis. “Paciente e cuidador precisam continuar com suas tarefas diárias, mesmo entre exames, internações e dores. Qualquer ajuda, por menor que seja, faz uma grande diferença”, observa, citando exemplos como levar os filhos à escola, preparar comida, cuidar dos animais ou das plantas e fazer pequenas compras.
Flávia alerta ainda para o desgaste emocional dos cuidadores. “Muitos se sentem cansados, sozinhos e culpados. Ter alguém para conversar ou para ajudar em momentos pontuais é fundamental”, diz. Ela recomenda que cuidadores falem abertamente sobre suas necessidades e reconheçam seus limites: “Pedir ajuda não é sinal de fraqueza, faz parte do cuidado”.
Comunicação e empatia no centro do processo
A equipe do HAB acredita que uma comunicação clara e empática entre os profissionais de saúde, pacientes e famílias é fundamental nos cuidados paliativos. “É importante explicar o diagnóstico, possíveis cenários, o prognóstico e os próximos passos com honestidade”, comenta Elisa Marquezini. Essa postura ajuda a fortalecer a resistência da família diante da situação.
Nas relações com amigos e parentes, a psicóloga recomenda evitar frases que pressionem o paciente a estar sempre otimista. “É comum querer ajudar, mas às vezes as pessoas diminuem o sofrimento. Em vez de exigir positividade, é melhor escutar, validar sentimentos e oferecer ajuda prática”, aconselha.
Viver com sentido até o fim
Um dos princípios do cuidado paliativo é permitir que o paciente viva com dignidade e propósito até o fim da vida. O foco é reconhecer que a morte faz parte da vida, valorizando o que ainda pode ser vivido com significado e presença. “É um momento para rever valores, reconciliar histórias e fazer escolhas alinhadas aos desejos pessoais”, destaca Flávia Nunes.
Flávia relata casos em que o adoecimento trouxe mudanças importantes. “Já vimos filhos que, após cuidar da mãe, viraram cuidadores profissionais. Também acompanhamos pacientes que decidiram oficializar uniões durante a internação e famílias que reataram laços antigos”, compartilha.
No Distrito Federal, o HAB conta com o apoio do programa Bolsa Atleta, que ajuda a ter profissionais especializados e mantém as atividades de acolhimento. A estrutura da unidade, que está sendo melhorada, ajuda a garantir um atendimento qualificado e humano.
Para os profissionais, o cuidado vai além da medicina: é sobre estar presente, ouvir, ter empatia e oferecer apoio real, dentro e fora do hospital.