Há mais de três décadas, o Irã enfrenta acusações de Israel sobre o desenvolvimento de armas nucleares, consideradas uma ameaça grave pelo Estado judeu. Esse cenário alimenta o atual conflito entre os dois países, com desdobramentos ainda incertos.
Por que o programa nuclear do Irã é tão questionado pelas potências ocidentais, enquanto Israel, que não assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), não é alvo das mesmas cobranças?
Especialistas em geopolítica indicam que a guerra tenta enfraquecer o Irã militar e economicamente, consolidando a hegemonia israelense no Oriente Médio. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) também pode estar sendo usada para justificar essa posição, alegando não cumprimento do Irã ao TNP, mesmo com inspeções regulares feitas no país.
Ali Ramos, cientista político, destaca que Israel não aceita concorrentes regionais com indústria ou força econômica significativa. Ressalta que além do armamento nuclear, Israel busca manter seus vizinhos em estado de dependência e pobreza.
Já Robson Valdez, professor de relações internacionais, observa que a AIEA pode estar sendo instrumentalizada para respaldar a intervenção dos EUA no conflito, enquanto Luiz Alberto Moniz Bandeira, historiador, lembra que a suposta ameaça nuclear iraniana serve para ocultar disputas de poder na região.
Origens do programa nuclear iraniano
O programa começou na década de 1960 com apoio da Alemanha e dos EUA, durante o governo do xá Reza Pahlavi, que foi deposto na Revolução Iraniana de 1979. O aiatolá Khomeini proibiu o desenvolvimento de armas atômicas por considerar contrárias ao Islã, porém o programa foi retomado em 1989 por Ali Khamenei, sempre negando o objetivo bélico.
Ali Ramos explica que o foco do programa é energético, para suprir a demanda industrial do Irã. Moniz Bandeira compara essa iniciativa a movimentos históricos de nacionalismo contra a influência ocidental.
Diplomacia e acordos internacionais
Em 2012, com mediação do Brasil e da Turquia, o Irã aceitou transferir urânio pouco enriquecido para a Turquia em troca de combustível das usinas nucleares, numa iniciativa que os EUA posteriormente recuaram, mantendo sanções. O acordo de 2015, o Plano de Ação Integral Conjunto, firmado durante o governo Barack Obama, limitava atividades nucleares em troca do alívio das sanções. A AIEA confirmou cumprimento por parte do Irã.
Entretanto, em 2018, a administração Donald Trump retirou os EUA do acordo e reimpôs sanções, aumentando as tensões. Segundo Ali Ramos, essa decisão visava fortalecer o apoio interno enfrentando oposição política.
Atuação atual da AIEA e situação recente
Embora as inspeções nucleares fossem regulares, a AIEA mudou o tom em 2024, aprovando resolução crítica ao Irã. Segundo Ali Ramos, uma possível politização da agência serve interesses geopolíticos e prepara o terreno para intervenções militares.
O contexto atual indica uma destruição das bases do direito internacional na região, num cenário de disputas que ultrapassam o programa nuclear e refletem profundas disputas políticas, econômicas e militares no Oriente Médio.