SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira (24) que o aumento da taxa básica de juros pelo Banco Central é uma consequência das decisões tomadas pelo ex-presidente da instituição, Roberto Campos Neto, que deixou o cargo em dezembro e foi substituído por Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Sendo honesto e falando com propriedade, essa elevação foi programada na última reunião em que Roberto Campos participou, em dezembro. É como se tivesse sido contratada uma taxa futura. Não se pode realizar uma reversão brusca na política monetária, isso compromete a credibilidade. É preciso cautela”, declarou Haddad à Record News.
Na entrevista, o ministro expressou preocupação com o patamar atual da taxa Selic, que está em 15%, considerando-a restritiva em relação às projeções inflacionárias.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa em 0,25 ponto percentual na semana anterior, alcançando o nível mais alto desde julho de 2006. Conforme a ata da reunião, divulgada nesta terça, os membros decidiram manter os juros altos por mais tempo para desacelerar a atividade econômica.
A última reunião do Copom com Campos Neto na presidência foi em dezembro, quando a Selic foi fixada em 12,25% ao ano. Desde então, Gabriel Galípolo presidiu quatro reuniões, sempre elevando a taxa, acumulando alta de 2,75 pontos percentuais.
Haddad também mencionou que o problema da inflação dos alimentos está em processo de correção, embora continue sendo um ponto de atenção. Em maio, a alta dos preços nessa categoria desacelerou para 0,02%, a menor taxa dos últimos nove meses, conforme dados do IPCA.
O ministro ressaltou que o país deve congelar as discussões sobre aumento de gastos públicos, exceto em casos emergenciais.
Ele enfatizou a importância de dar exemplo de austeridade para garantir maior crescimento no futuro. “Quanto mais economia gerarmos, maior a chance do Brasil iniciar um ciclo virtuoso de crescimento prolongado”.
Recentemente, o governo do presidente Lula publicou uma medida provisória para aumentar a arrecadação de impostos e compensar a redução no IOF. Entre as medidas estão o aumento da tributação sobre apostas esportivas e alterações na tributação de instituições financeiras, assim como um novo decreto que ajustou para baixo o acréscimo do IOF anunciado em maio.
Embora a maior parte das medidas tenha foco na arrecadação, parte do mercado continua criticando a falta de contenção de despesas e demonstra desconfiança quanto ao compromisso do governo com as metas fiscais.
Haddad se declarou otimista quanto à aprovação das medidas no Congresso, mesmo diante das resistências. “Há debates e divergências, mas prevalece um espírito de responsabilidade para avançarmos”, disse.
Um relatório da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado indicou que a União terá um déficit primário de R$ 83,1 bilhões em 2025, dentro do previsto no arcabouço fiscal.
O ministro também confirmou que o governo estuda formas de ampliar o crédito imobiliário no país. “O Brasil hoje tem crédito imobiliário equivalente a 10% do PIB, enquanto outros países, como Chile, têm 30%, e a Austrália mais de 100%. Temos um caminho a percorrer”, afirmou.
“Recentemente, tivemos uma reunião extensa com o presidente Lula para explorar novos instrumentos de crédito imobiliário com garantia, que possibilitem juros mais baixos e potencializem uma indústria central para o desenvolvimento nacional: a construção civil.”