Walter Delgatti Neto, conhecido hacker, declarou em audiência virtual à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados que Carla Zambelli, deputada licenciada pelo PL-SP que está presa na Itália, teria ordenado a invasão no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ele também afirmou que ela solicitou a inserção de um mandado de prisão contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Durante seu depoimento, feito de forma virtual enquanto está preso em São Paulo, Delgatti envolveu a parlamentar em uma série de acusações, enquanto Zambelli participava da reunião remotamente. A deputada foi condenada a dez anos de prisão por esse crime e aguarda julgamento do pedido de extradição para o Brasil. Além disso, o STF decidiu pela perda de seu mandato e a CCJ ainda analisa o caso antes do encaminhamento ao Plenário.
Em resposta ao relator da investigação, deputado Diego Garcia (Republicanos-PR), o hacker explicou que conheceu Carla Zambelli em 2022, tendo sido contratado por ela para demonstrar vulnerabilidades no sistema do CNJ e desacreditar a segurança do judiciário e do sistema eleitoral brasileiro. Segundo ele, Zambelli teria afirmado que, em caso de prisão ou processo, ele poderia alegar que a ordem partiu dela, que assumiria a responsabilidade.
Delgatti narrou que, após invadir o CNJ, foi instruído para criar uma ordem de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Também afirmou ter recebido suporte financeiro e promessa de emprego da deputada, da qual se arrependeu quando a promessa não foi cumprida.
Carla Zambelli rebateu as acusações classificando Delgatti como mitomaníaco, alguém compulsivo por mentir, e alegou que ele alterou sua versão diversas vezes. Ela destacou a gravidade da condenação, mencionando a emissão de mandados de soltura no sistema que incluem criminosos perigosos, algo que ela nega ter autorizado.
Além disso, a parlamentar negou que Delgatti tenha permanecido em sua residência por mais do que algumas horas, contestando a versão dele e sugerindo que provas como imagens de câmeras poderiam esclarecer o ponto.
Já Walter Delgatti negou ter mentido, admitindo possível confusão em datas devido à prisão.
Outro depoimento, do assistente técnico da defesa, Michel Spiero, destacou a ausência de documentos ou mensagens da deputada solicitando qualquer ação hackeada, enfatizando que as investigações não apresentaram provas concretas do comando direto da parlamentar.
O presidente da CCJ, deputado Paulo Azi (União-BA), ressaltou a singularidade do processo, que avalia a perda do mandato de um parlamentar em circunstâncias inusitadas, incluindo a condenação definitiva e o fato de Carla Zambelli estar presa no exterior.
O líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou seu apoio à deputada, condenando acusações baseadas em testemunho de uma fonte desqualificada e enfatizando uma luta política contra o que chamou de autoritarismo judicial e falsas acusações.
Por outro lado, a deputada Fernanda Melchionna (Psol-RS) criticou o processo como uma tentativa indevida de usar a prerrogativa de Carla Zambelli para escapar da responsabilização penal. Ela destacou que a CCJ não está reavaliando o processo criminal, mas analisando a cassação do mandato com base na condenação já confirmada. Melchionna classificou a reunião como uma exposição pública excessiva e um argumento usado para evitar a cassação.