A movimentação militar na fronteira com o México e o envio de navios de guerra para a costa da Venezuela indicam uma mensagem clara dos Estados Unidos. No entanto, não é possível afirmar se essa tática é apenas uma demonstração de força para intimidar ou se antecede uma intervenção direta.
Recentemente, um vídeo que mostra militares americanos atirando contra uma embarcação no Caribe, supostamente vinda da Venezuela carregada de drogas, gerou tensão entre os países. Donald Trump afirmou que “11 terroristas” foram mortos na operação, enquanto o governo venezuelano acusou os EUA de terem criado as imagens com o uso de inteligência artificial.
Segundo Tamara Lajtman, doutora em Ciências Sociais pela Universidade de Buenos Aires, a política americana contra o narcotráfico na América Latina existe desde os anos 1970, e foi conduzida tanto por governos republicanos quanto democratas. No segundo mandato de Trump, houve uma intensificação dessa abordagem, que combina migração, narcotráfico e terrorismo como ameaças à segurança nacional dos EUA.
Aníbal García, doutor em estudos latino-americanos pela Universidade Autônoma do México, concorda e destaca a fusão da guerra contra narcotráfico com o terrorismo e um uso mais assertivo da força na diplomacia americana, reforçando a narrativa do narcoterrorismo.
Além das ações militares, há um aumento nas visitas diplomáticas da administração americana à América Latina, focando em segurança, combate ao narcotráfico e migração, com destaque também para a questão da China.
Nos últimos meses, a política dos EUA tem um tom mais agressivo, com medidas como a militarização das fronteiras e a designação de cartéis como organizações terroristas estrangeiras. Em fevereiro de 2025, o Departamento de Estado listou grupos criminosos venezuelanos, salvadorenhos e mexicanos como organizações terroristas estrangeiras e, em agosto, dobrou a recompensa por informações sobre o presidente venezuelano Nicolas Maduro, acusado de liderar um suposto grupo criminoso chamado Cartel de los Soles.
O jornal New York Times revelou que Trump teria autorizado o uso da força militar no exterior contra cartéis latino-americanos rotulados como narcoterroristas, o que pode indicar possíveis ações na Venezuela, México e América Central.
Tamara Lajtman acredita que, embora uma intervenção direta seja cara, o envio da frota para o Caribe funciona como uma pressão combinada com sanções financeiras e jurídicas. Essa estratégia faz parte de uma resposta vinculada ao combate ao terrorismo, com o objetivo principal de promover uma mudança de regime, especialmente na Venezuela.
As tensões se ampliam com países como México, Colômbia e Brasil, reavivando um clima de guerra fria na região que disputa influência global juntamente com China e Rússia.
Para Aníbal García, a possibilidade de intervenção existe dentro do histórico das políticas americanas, marcada por conflitos como a invasão do Panamá em 1989. Por trás dessa postura agressiva, há um interesse estratégico dos EUA em conter a influência chinesa na América Latina e controlar as reservas de petróleo venezuelanas.
No México, apesar da cooperação em segurança e combate ao narcotráfico, as pressões americanas são percebidas como mais beligerantes do que nas últimas décadas. Embora exista a possibilidade de conflitos em outros países, não há até o momento evidências concretas que sustentem uma intervenção armada.
Aníbal García ressalta que uma intervenção armada na Venezuela seria muito problemática, gerando instabilidade prolongada e muitas perdas humanas, além de alterar as relações internacionais na região.