Portugal enfrenta uma greve geral histórica nesta quinta-feira, dia 11 de dezembro, convocada pelas maiores centrais sindicais do país, CGTP e UGT. Esta é a primeira paralisação em 12 anos e é uma reação ao pacote trabalhista proposto pelo governo de Luís Montenegro, que contém mais de cem alterações nas leis do trabalho.
Os impactos da greve começaram na noite anterior e se acentuaram pela manhã. O serviço ferroviário foi severamente afetado, com interrupções significativas, especialmente na região do Porto, onde quase metade das linhas ficaram inoperantes. A CP, responsável pela operação ferroviária, mantém apenas serviços mínimos até sexta-feira, gerando atrasos substanciais para os passageiros. Muitas empresas e trabalhadores adaptaram-se com tolerância a atrasos ou trabalho remoto.
Em Lisboa, o metrô permaneceu fechado desde as 6 horas da manhã, só retomando operações na madrugada seguinte. No Porto, somente a linha amarela do metrô funcionou. A frota de ônibus de Lisboa opera com número limitado de veículos e intervalos ampliados, e conexões fluviais foram reduzidas para 25% durante horários de pico.
No setor aéreo, a TAP reduziu seus voos para um terço da capacidade, enquanto a companhia angolana TAAG cancelou o voo diário para Lisboa.
Escolas fechadas e hospitais sobrecarregados
Numerosas escolas permaneceram fechadas, causando transtornos apesar do aviso prévio aos pais. A Fenprof, principal federação dos professores, confirmou alta adesão à paralisação. No setor de saúde, já em situação precária, houve agravamento da pressão. Os tempos de espera nas emergências já ultrapassavam 10 horas, chegando a 15 horas em alguns casos, muito além do recomendado. Serviços mínimos estão garantidos, mas falta pessoal, recursos e a equipe se encontra exausta, aumentando o desgaste para profissionais e pacientes.
Modificações trabalhistas contestadas
O pacote governamental propõe mudanças profundas na legislação laboral, incluindo:
- Obrigatoriedade de 150 horas extras por ano, imposta unilateralmente pela empresa;
- Extensão dos contratos temporários de dois para três anos, com risco de precarização;
- Restrições nas flexibilidades de horário para mães que amamentam;
- Limitações maiores para pais com filhos até 12 anos quanto à adaptação de horários.
Sindicatos consideram que essas mudanças representam perda de direitos importantes, afetando principalmente mulheres, famílias monoparentais e trabalhadores vulneráveis. O governo defende as mudanças como essenciais para modernizar as leis trabalhistas e melhorar a competitividade nacional.
Reação da população
Pesquisas indicam que 61% da população apoia a greve geral, embora o transtorno no dia a dia seja grande, especialmente em um período de intensa movimentação como dezembro. A proposta, denominada “Trabalho XXI”, foi apresentada em 24 de julho, mas gerou resistência crescente das centrais sindicais. A atual paralisação é a primeira convocada conjuntamente pelas duas centrais desde 2013.
Mesmo após ajustes na proposta, o governo sinalizou que seguirá com o debate e votação do pacote na Assembleia da República nos próximos meses, independentemente do acordo social, após a finalização do ciclo orçamentário.

