Bloqueios nas estradas foram motivados por alta dos preços dos alimentos e combustíveis, em um movimento deflagrado pela guerra na Ucrânia; país já registra mortos e feridos
O aumento do preço dos alimentos e dos combustíveis, decorrente em boa parte da guerra na Ucrânia, um dos maiores produtores mundiais de grãos, e das sanções à Rússia, terceiro maior exportador de petróleo, provocou um protesto generalizado nas estradas do Peru. Os caminhoneiros começaram a fazer bloqueios nas principais rodovias no início do mês – produtores rurais, afetadas pela alta do custo de insumos como fertilizantes, produzidos em larga escala pela Rússia, aderiram ao movimento. O governo decidiu convocar o Exército para liberar o trânsito e, na última quinta, dia 7, anunciou uma resolução ainda mais drástica: foi decretado estado de emergência por um mês.
A medida vem provocando críticas no Congresso. Nesta segunda, dia 11, a parlamentar Patricia Chirinos, da oposição, apresentou uma denúncia contra o presidente Pedro Castillo, a quem acusa de “atentar contra a liberdade de milhões de pessoas”.
O governo peruano suspendeu os direitos constitucionais relativos à “liberdade de trânsito em território nacional, liberdade de reunião e liberdade de segurança pessoal” nas principais rodovias.
Os protestos, que começaram nas estradas, chegaram às ruas de Lima e outras cidades. Os manifestantes pedem melhorias no sistema econômico e social, além da renúncia do presidente. Enfrentamentos com as forças de segurança tiveram como saldo a morte de seis pessoa e pelo menos 15 feridos.
Para aliviar a tensão social, o governo do Peru reduziu os impostos dos combustíveis e aumentou o salário mínimo. Está em discussão uma medida para diminuir a carga tributária dos alimentos. Já no ano passado, o preço de alimentos como o açúcar aumentou 35% e os custos relativos à energia subiram 11%. Em março deste ano, a inflação chegou a quase 7%, um recorde dos últimos 24 anos.
No Brasil, os caminhoneiros chegaram a ameaçar entrar em greve depois do último reajuste da gasolina e do diesel, no dia 10 de março, que tiveram aumentos de, respectivamente, 18,8% e 24,9%. Mas o movimentou não foi adiante. Ao menos parte do reajuste foi absorvido no preço do frete, segundo fontes de mercado. Com isso, a possibilidade de uma paralisação generalizada dos caminhoneiros acabou sendo colocada em segundo plano. “Quem vai pagar (a conta) é o consumidor final, a cada produto que comprar no supermercado”, disse José Roberto Stringasci, presidente da Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB).
O índice de inflação no Brasil chegou a 1,62% em março, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no maior avanço mensal dos últimos 28 anos. Os aumentos nos setores de transportes, alimentos e bebidas foram responsáveis por 72% do aumento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março. A alta dos combustíveis e do frete vem impactando o custo do transporte de alimentos. Em março, os campões dos aumentos foram a cenoura (31,7%), o tomate (27,2%), leite longa vida (9,3%), óleo de soja (8,9%), frutas (6,4%) e pão francês (3%).