A situação financeira dos Correios atingiu seu pior momento em mais de dez anos. A empresa estatal acumula 13 trimestres seguidos de prejuízo, registrando um rombo de aproximadamente R$ 6 bilhões somente em 2025.
A perda de receitas, o aumento das despesas e as mudanças no mercado de entregas, incluindo a concorrência crescente e a implementação da chamada “taxa das blusinhas”, agravaram significativamente as finanças da companhia que já enfrentava dificuldades desde 2022.
O governo federal tem indicado que o auxílio financeiro depende da apresentação de um plano consistente de recuperação, com metas claras e cortes estruturais.
Recentemente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou sobre o tema, mencionando a possibilidade de suporte financeiro pela União, com um aporte de até R$ 6 bilhões, condicionado a negociações ainda em andamento. Ele destacou que o Tesouro Nacional está responsável pela elaboração de um plano de reestruturação.
Contexto da crise
A estatal enfrenta queda no volume de envios, impactada pelo declínio das correspondências físicas e o crescimento das empresas privadas de logística. Em 2024, o prejuízo já era de R$ 2,6 bilhões — quatro vezes maior que o do ano anterior — e até setembro de 2025 o déficit ultrapassou R$ 6 bilhões.
A receita das atividades postais tradicionais diminuiu enquanto as despesas, incluindo juros e manutenção da estrutura, aumentaram. Os Correios são a maior rede logística do país, atuando em todos os municípios, inclusive em áreas de baixa rentabilidade.
Impacto da “taxa das blusinhas”
A crise foi acelerada por mudanças no comércio eletrônico internacional. Até 2023, plataformas estrangeiras como Shopee, Shein, AliExpress e Temu vendiam para o Brasil sem imposto de importação em compras até US$ 50.
Com o aumento das importações, os Correios cresceram em serviços de encaminhamento e tratamento de encomendas internacionais. Contudo, a criação da “taxa das blusinhas”, que passou a cobrar imposto sobre esses pequenos pacotes, reduziu significativamente o volume de remessas, impactando negativamente uma das fontes de receita mais dinâmicas da empresa.
Dificuldades na obtenção de empréstimo
Para conter a crise, os Correios negociaram um empréstimo de R$ 20 bilhões com bancos públicos e privados para garantir liquidez, pagar dívidas e financiar a reorganização da rede. Porém, a taxa de juros exigida, em torno de 136% do CDI, excedeu o limite permitido pelo Tesouro Nacional (120% do CDI), o que levou à reprovação do empréstimo.
A estatal busca renegociar a operação e estuda outras medidas, como venda de imóveis, cortes de contratos, antecipação de receitas e ampliação do programa de demissão voluntária, já previsto para 15 mil funcionários.
Fernando Haddad deixou claro que o governo condiciona o socorro financeiro à aprovação de um plano de recuperação formal, que inclua eficiência, ajustes administrativos, reorganização logística e redução de custos.
Plano de reestruturação dos Correios
- Fechamento de agências deficitárias, podendo alcançar mais de mil unidades;
- Venda de imóveis ociosos, com expectativa de gerar cerca de R$ 1,5 bilhão;
- Programa de demissão voluntária para até 15 mil funcionários;
- Revisão e corte de contratos administrativos;
- Expansão de parcerias e busca por novos nichos de receita.
Especialistas apontam que o maior risco é a paralisação das operações. Sem recursos para manutenção da frota, modernização dos sistemas ou pagamento a fornecedores, os atrasos e falhas nas entregas podem aumentar, o que reduziria ainda mais a receita pela perda de clientes para a concorrência.

