A relação entre o Palácio do Planalto e o União Brasil atingiu um novo nível de tensão nesta quarta-feira (27/8). O partido programou para a próxima quarta-feira (3/9) uma reunião interna para avaliar a possibilidade de deixar a coalizão do governo federal.
Essa decisão surge após demandas constantes do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que exige do partido o cumprimento de seu papel no governo, especialmente o apoio nas votações que interessam à administração petista. Um dos estopins foi a crítica de Lula ao presidente do União Brasil.
O União Brasil ocupa três ministérios: Turismo, com Celso Sabino de Oliveira; Comunicações, com Frederico de Siqueira Filho; e Desenvolvimento Regional, com Waldez Góes. O ministério do Turismo está em evidência devido à organização da Conferência das Partes (COP30) em Belém, local de atuação de Sabino, marcada para novembro deste ano.
Idas e vindas
- O União Brasil gere atualmente três pastas do governo Lula: Turismo, Comunicações e Desenvolvimento Regional.
- O partido é alvo de críticas internas porque não tem garantido todos os votos nas pautas de interesse governamental.
- Dentro da legenda, alguns membros são contrários ao governo Lula e defendem a saída do executivo.
- O confronto está relacionado aos arranjos políticos para as eleições de 2026.
Um episódio que irritou membros do União Brasil ocorreu durante a reunião ministerial liderada por Lula na terça-feira (26/8). O presidente declarou não ter simpatia pelo líder do partido, Antonio Rueda, que por sua vez tem criticado publicamente Lula. Na quarta-feira, a bancada do União Brasil na Câmara expressou apoio incondicional a Rueda por meio de nota oficial.
O presidente fez cobranças para que os ministros evidenciem não apenas seus próprios resultados, mas o desempenho coletivo do governo. Essas críticas ganham maior força em relação aos ministros vinculados ao União Brasil, devido à frequência de votos contrários nas duas casas do Congresso.
Lula pressiona o partido, enquanto dentro dele há vozes, como a do governador de Goiás e pré-candidato à Presidência da República em 2026, Ronaldo Caiado, que defendem o abandono da coalizão governamental. Caiado afirmou recentemente que um partido deve ter clareza em seus posicionamentos políticos durante a convenção da federação União Progressista (UPb), composta pelo União Brasil e Progressistas.
O desentendimento entre governo e União não é recente. Surge da atuação de parlamentares que atuam contra os interesses do Planalto, resultando em derrotas legislativas para o governo, como a votação que derrubou as alterações no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no final de junho. A votação teve ampla maioria contra as mudanças, com apoio de deputados de vários partidos que também integram ministérios no governo Lula.
Caso do ministro do Turismo
O ministro do Turismo, Celso Sabino, é um dos casos mais emblemáticos dentro dessa crise, enfrentando pressão para deixar o cargo, além da ameaça de expulsão do partido. Embora filiado ao União Brasil, Sabino foi indicado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).
Alcolumbre tem atuado tanto na defesa de pautas alinhadas ao Planalto, como a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas, quanto em questões que dividem o governo, como o impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Sabino minimizou os rumores sobre o desembarque do governo durante a Feira Nacional do Turismo em São Paulo no último dia 21, afirmando que divergências políticas ocorrem em todos os partidos e que muitos reconhecem avanços do governo Lula.
Contexto atual
O aumento da tensão ocorre em meio à criação da federação União Progressista (UPb), que agrupa políticos contrários a Lula, consolidando-se como uma frente política anti-Lula. Paralelamente, o governo se prepara para as eleições futuras, com Lula apresentando recuperação em índices de aprovação conforme pesquisa Genial/Quaest de 21/8, posicionando-se como favorito nos cenários iniciais para 2026.