O governo brasileiro começou os preparativos para a entrega do agente russo Sergey Vladimirovich Cherkasov, a pedido do governo de Vladimir Putin. Procurado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), Sergey está detido na Penitenciária Federal de Brasília.
O governo deu início aos processos para a entrega do russo após autorização do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). A investigação conduzida pelo Ministério Público Federal (MPF) foi arquivada por falta de evidências que comprovassem sua atuação em atividades de espionagem no Brasil.
Com a conclusão do inquérito e o trânsito em julgado das decisões judiciais no Brasil, uma decisão confidencial do TRF-1 liberou o começo dos procedimentos para o repatriamento a Moscou. Essa ação cumpre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que em 2023 aprovou a extradição, condicionada à finalização dos processos pendentes no país.
Atualmente, o Ministério da Justiça conduz as negociações para a entrega. Uma das possibilidades é que Sergey seja levado até a Embaixada da Rússia em Brasília para ser escoltado pela Polícia Federal (PF) até sua destinação em Moscou. O ministério não se manifestou sobre o assunto até o encerramento da reportagem.
Sergey utilizava no Brasil a identidade falsa de Victor Muller Ferreira e, segundo as autoridades russas, fazia parte de uma organização criminosa dedicada ao tráfico de entorpecentes.
Bancos financiadores russos
A Polícia Federal identificou agentes da diplomacia russa que realizavam repasses financeiros a Sergey, que já havia tentado entrar no Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia, Holanda, com documentos falsificados.
A quebra do sigilo bancário e a análise dos arquivos em seu celular indicam possíveis delitos de lavagem de dinheiro, demonstrando como os recursos eram enviados por diplomatas russos no Brasil e como a comunicação entre o espião e seus superiores ocorria.
Para o MPF, a ação de diplomatas apoiando Sergey sugere a existência de um “grupo criminoso organizado, com provável participação de cônsules russos no Rio de Janeiro, dedicado à criação e manutenção de documentos falsos para facilitar a migração sem levantar suspeitas das autoridades estrangeiras”.
“De acordo com as investigações, Sergey Vladimirovich Cherkasov aparenta ser apenas um agente entre outros possíveis envolvidos”, declarou o MPF.
Uma vez que as atividades dos funcionários russos ocorreram principalmente no Rio de Janeiro, o MPF, ao encerrar a apuração sobre espionagem, encaminhou os casos relacionados à lavagem de dinheiro e diplomatas para a Procuradoria do estado fluminense.
Com a quebra do sigilo bancário de Cherkasov, a Polícia Federal descobriu que ele recebeu aproximadamente R$ 90 mil por meio de depósitos fragmentados, todos abaixo de R$ 2 mil.
Para rastrear a origem do dinheiro, os investigadores solicitaram à instituição bancária as imagens das câmeras de segurança dos caixas eletrônicos utilizados.
“A instituição financeira forneceu imagens de suas câmeras de segurança de 7 de fevereiro de 2022, que mostraram que os depósitos foram realizados por Ivan Chetverikov e, possivelmente, por Aleksei Matveev, ambos funcionários da consulado russo”, conforme registrado pelo MPF.

