24.5 C
Brasília
quinta-feira, 16/10/2025

Governo reduz oferta de títulos atrelados à inflação

Brasília
nuvens dispersas
24.5 ° C
25.9 °
24.5 °
62 %
4.6kmh
40 %
qui
31 °
sex
32 °
sáb
34 °
dom
31 °
seg
27 °

Em Brasília

ADRIANA FERNANDES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

O Tesouro Nacional diminuiu a quantidade de NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional – Série B) oferecidas no mercado para tentar resolver a crise nesses títulos públicos, que têm rendimento ligado à inflação (IPCA) e prazos mais longos.

A rejeição da medida provisória (MP) que aumentaria impostos não resolveu os problemas do Tesouro na venda das NTN-Bs, que sofre com a alta das taxas provocada pela concorrência das debêntures de infraestrutura. Essas debêntures são títulos privados emitidos por empresas para financiar projetos como estradas, ferrovias e saneamento.

Espera-se que essa situação continue, já que há um grande investimento em infraestrutura, o que levará a mais emissão desses títulos privados, segundo especialistas e técnicos do governo.

Essas debêntures incentivadas oferecem isenção do Imposto de Renda, ao contrário dos títulos do Tesouro, que têm alíquota entre 15% e 22,5%.

O governo tentou, na MP, acabar com essa isenção para debêntures e outros títulos isentos, como LCA e LCI, propondo uma taxa de 5%. Já os títulos públicos teriam uma taxa única de 17,5%.

A MP e a expectativa do fim da isenção em dezembro causaram antecipação das emissões das debêntures incentivadas, agravando o problema do Tesouro na gestão da dívida pública. A MP perdeu validade, mas o problema persiste.

Nos últimos leilões, o Tesouro tem oferecido poucas NTN-Bs (50 mil), comparado a setembro, quando foram ofertadas até 750 mil. Essa redução é chamada no mercado de “cancelamento branco”, ou seja, quase nenhum leilão ocorreu.

Técnicos do Ministério da Fazenda admitem que o quadro piorou e acreditam que sem essa concorrência dos títulos incentivados, as taxas das NTN-Bs seriam menores.

Eles preveem que a situação negativa continuará devido ao crescimento dos fundos de crédito formados por debêntures incentivadas, que diminuem o diferencial de juros e aumentam a competição com as NTN-Bs.

Os investidores aceitam taxas menores nas debêntures porque não pagam IR. Além disso, o Tesouro paga um prêmio maior por causa das incertezas futuras sobre a dívida pública.

A rentabilidade das NTN-Bs aumentou recentemente, chegando a níveis históricos, com taxas fixas acima de 8% para títulos com vencimento em 2029, a maior desde a emissão em 2023.

Luis Felipe Vital, estrategista-chefe da corretora Warren, aponta que apesar da queda do dólar de R$ 6,30 para R$ 5,50, as taxas das NTN-Bs se mantêm em R$ 7,30, mostrando que fatores externos melhoraram, mas as taxas não diminuíram.

Ele destaca que o Tesouro está emitindo mais títulos do que aqueles que vencem, com percentual de rolagem em 130%, para reforçar o colchão de liquidez da dívida até 2026, ano eleitoral.

Esse colchão ajuda o Tesouro a evitar leilões em períodos turbulentos. Com eleições e grandes vencimentos em 2027, o Tesouro se prepara para esses desafios.

Segundo Vital, o governo terá um colchão próximo a R$ 1,3 trilhão para evitar vendas emergenciais de títulos, diferente do passado, quando também podia usar recursos do Banco Central para reforçar esse colchão.

Ele considera acertada a estratégia do Tesouro de reduzir a oferta de títulos para ajudar o mercado a absorver as emissões feitas.

Paulo Valle, ex-secretário do Tesouro, explica que a concorrência com as debêntures incentivadas obriga o Tesouro a pagar juros maiores, aumentando o custo do financiamento da dívida.

Ele lembra que o Tesouro era contra a criação dessas debêntures, mas perdeu a discussão. Para ele, a redução dos lotes é um instrumento para diminuir essa pressão.

Vale destacar que, no dia em que a MP foi rejeitada, Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, criticou o subsídio dado às debêntures incentivadas, classificando como erro mantê-las assim. Segundo ele, os subsídios não têm justificativa econômica ou social e deveriam ser aplicados com análise rigorosa, mesmo em infraestrutura.

Nos debates sobre a MP, o fim da isenção para debêntures foi um dos primeiros pontos a ser retirado, mostrando o poder dos setores beneficiados.

Até a publicação desta reportagem, o Tesouro não se manifestou sobre o assunto.

Veja Também