CATIA SEABRA E VICTORIA AZEVEDO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
Aliados do presidente Lula (PT) estão preocupados que a união de partidos do centrão em torno de uma candidatura de direita para 2026 possa atrapalhar os projetos do governo até o fim do mandato.
A preocupação é que, ao apoiarem o candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos), esses parlamentares se unam ao bolsonarismo para bloquear iniciativas do Executivo, especialmente a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000.
Recentemente, as lideranças do Progressistas (PP) e do União Brasil anunciaram rompimento com o governo petista. Os deputados e senadores dessas siglas devem deixar seus cargos na Esplanada até o dia 30, sob risco de expulsão.
Essa situação ocorreu durante o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no STF (Supremo Tribunal Federal). Governistas sabem que a saída desses partidos reduzirá a base do governo para 259 deputados, apenas dois a mais que a maioria simples.
Esse impacto foi visível no Senado, onde senadores do PP e do União Brasil votaram contra a PEC que cria novas regras para precatórios.
A proposta, que permite ao governo gastar R$ 12,4 bilhões a mais em 2026, foi aprovada por um placar apertado.
Além disso, integrantes do governo temem que o avanço da proposta de anistia para os condenados pelos atos de 8 de janeiro impeça a tramitação de outras pautas importantes na Câmara.
Aliados de Lula avaliam que os partidos do centro podem agir contra a agenda do governo para evitar que o presidente tenha ganhos eleitorais com medidas populares, especialmente a isenção do IR.
Assessores do governo dizem que esse rompimento pode ser usado para reforçar o discurso contra privilégios, mostrando que os apoiadores de Tarcísio dão preferência à anistia para envolvidos em atos antidemocráticos em vez de apoiar benefícios para a população.
A ideia é destacar que os bolsonaristas priorizam interesses políticos próprios, como o apoio às sanções econômicas dos Estados Unidos contra o Brasil, acima dos interesses nacionais.
No Congresso, articuladores do governo acreditam que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), deve ceder à pressão para incluir a anistia na pauta.
O foco agora é convencê-lo a votar a proposta de isenção do IR antes da anistia, argumentando que a aprovação de uma medida popular beneficiaria a imagem da Câmara e do próprio Motta.
A proposta do IR foi aprovada em comissão especial em julho, mas não avançou desde então. Precisa ser votada no plenário da Câmara antes de ir ao Senado.
Aliados de Lula acreditam que priorizar a anistia fortaleceria o grupo que já causou obstrução na Câmara durante tumultos no plenário, sem punições até o momento.
Eles também avaliam que envolver o centrão na discussão da anistia apoia uma medida impopular e prejudica a imagem geral do Congresso.
Nos últimos dias, propostas controversas, como a PEC da Blindagem que protege parlamentares de investigações, receberam duras críticas no Parlamento.
No Planalto, a orientação é contra a anistia. Aliados afirmam que aprová-la seria uma vitória da direita radical e uma submissão a Trump, já que os Estados Unidos impuseram sanções econômicas ao Brasil em resposta ao julgamento de Bolsonaro no STF.
Um aliado do presidente afirma que a anistia é a pauta principal do bolsonarismo hoje e que a aprovação desse projeto seria um importante triunfo político para eles às vésperas das eleições.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), declarou que a votação é um momento decisivo para o governo e um risco real. “O governo defende as instituições democráticas e o STF. Quem votar pela urgência da anistia estará saindo do governo”, afirmou.
Lula, em eventos políticos, tem se manifestado contra a anistia e pediu mobilização popular contra a proposta.
Ele criticou falsos patriotas que pedem intervenção dos EUA no Brasil e alertou para o risco de aprovação da anistia no Congresso, onde a extrema direita ainda tem força significativa.
No centrão, a intenção é concluir a discussão sobre a anistia ainda este ano, para não afetar o calendário eleitoral de 2026.
A estratégia é manter temas difíceis, como sanções econômicas e anistia, fora da disputa eleitoral para evitar que candidatos de direita precisem se justificar perante os eleitores.