CATIA SEABRA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O governo do presidente Lula aponta o Congresso Nacional como responsável pela redução do lucro do Banco do Brasil no segundo trimestre deste ano. Mesmo com esses resultados, a presidente do banco, Tarciana Medeiros, continua bem vista pelo Palácio do Planalto, segundo aliados do presidente.
Os dados divulgados nesta quinta-feira (14) mostram que o lucro líquido do Banco do Brasil foi de R$ 3,8 bilhões, o que representa uma queda de 60% em relação ao mesmo período do ano anterior. Um dos fatores para essa redução é o aumento da inadimplência.
Assistentes do presidente Lula dizem que esse aumento na inadimplência está ligado à expectativa do setor do agronegócio de renegociar suas dívidas, após a aprovação de uma chamada “pauta-bomba” na Câmara dos Deputados. Essa pauta autorizou o uso de até R$ 30 bilhões do Fundo Social do Pré-Sal para permitir esse refinanciamento. A expectativa de poder rever as dívidas em condições melhores teria atrasado os pagamentos.
Em julho, a Câmara aprovou esse crédito com juros baixos para o agronegócio, uma ação liderada pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), em resposta a medidas contrárias do presidente da República e do Supremo Tribunal Federal. A proposta inicialmente beneficiaria apenas pequenos produtores rurais, mas, com o apoio do centrão, foi ampliada para permitir o uso desses recursos, originalmente destinados a educação, saúde e moradia, para o agronegócio de modo geral.
O projeto está agora no Senado, pronto para ser votado com pedido de urgência.
A queda no lucro do banco se explica por um aumento nas reservas para cobrir perdas futuras, que chegaram a R$ 15,9 bilhões, mais que o dobro do valor registrado um ano atrás. Essa medida foi motivada tanto pela alta da inadimplência quanto por uma nova regra do Banco Central, que exige que os bancos provisionem para perdas esperadas futuramente, e não apenas para dívidas já não pagas.
O Banco do Brasil calculou perdas esperadas de R$ 7,9 bilhões no agronegócio, R$ 4,8 bilhões em pessoas físicas e R$ 4,3 bilhões em pessoas jurídicas.
O setor agrícola enfrentou dificuldades após uma safra ruim, o que levou a um crescimento nos atrasos de pagamentos acima de 90 dias, que agora correspondem a 3,49% do total, um aumento significativo no trimestre e no ano.
Aliados do presidente Lula minimizam a chance de a queda nos números resultar na saída de Tarciana Medeiros do banco. Apesar de senadores pressionarem por sua troca, o desempenho ruim não é atribuído a ela.
Entre os congressistas, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), tem mostrado interesse na posição. Embora esteja próximo ao presidente, membros do governo consideram que o resultado financeiro do banco não permitirá uma substituição rápida.