Menos de 24 horas depois de anunciar seu governo, que logo recebeu críticas da oposição e até de aliados, o primeiro-ministro da França, Sébastien Lecornu, apresentou sua renúncia ao presidente Emmanuel Macron, que a aceitou na segunda-feira (6/10).
Este terceiro governo nomeado em um ano foi o mais curto até agora. A coalizão governista, frágil, desmoronou em poucas horas e, diante do risco de cair logo no início, o premiê preferiu antecipar o inevitável. “Não se pode governar sem as condições necessárias”, afirmou.
Em resposta à crise, Macron pediu a Lecornu para negociar com líderes parlamentares e definir até quarta-feira uma plataforma para garantir a estabilidade do país, conforme comunicado do Palácio do Eliseu.
Lecornu anunciou via X que estava pronto para conduzir conversas finais e que prestaria contas ao presidente na noite de quarta-feira.
Por que o governo caiu?
A renúncia ocorreu por descontentamento na aliança governista. O governo anunciado no domingo incluía o retorno do ex-ministro das Finanças, Bruno Le Maire, agora como ministro da Defesa, o que desagradou o partido conservador Republicanos (LR), aliado de Macron desde setembro de 2024.
Bruno Retailleau, líder do LR, criticou a composição que não refletia “a ruptura prometida” e convocou uma reunião urgente para discutir a situação.
Para os conservadores, Le Maire representa a política orçamentária responsável pela alta dívida pública, que ultrapassa 115% do Produto Interno Bruto (PIB). A grande presença do partido de Macron no governo, com 10 ministros contra 4 do LR, também causou insatisfação.
O LR também pressionava para incluir o combate à imigração ilegal no programa govermental.
Do lado da oposição, o partido de ultradireita Reunião Nacional (RN) e o bloco de esquerda criticaram duramente o governo que mantinha 12 dos 18 membros da equipe anterior. Grupos da extrema esquerda e Partido Verde apoiaram uma moção de censura.
A líder do RN, Marine Le Pen, criticou o retorno de Le Maire, chamando-o de “o homem que levou a França à falência”.
Socialistas também se mostraram insatisfeitos, com Boris Vallaud, líder da bancada do Partido Socialista (PS), acusando os macronistas de aumentar o caos no país.
O que acontece agora?
Com a renúncia aceita, as atenções se voltam para o presidente Macron, que tem três opções, todas desafiadoras.
- Nomear um novo primeiro-ministro, com a necessidade de aprovação da Assembleia Nacional, que está dividida entre a esquerda, os centristas/macronistas e a ultradireita, sem maioria absoluta.
- Dissolver o parlamento e convocar novas eleições legislativas, o que Macron diz não querer fazer, por risco de vitória da ultradireita.
- Renunciar, opção descartada por Macron, apesar de ser defendida por opositores que culpam sua política pela instabilidade.
A situação é agravada pela crise orçamentária, com dívidas e déficits elevados, e pela corrida para suceder Macron, que não poderá disputar as eleições de 2027, dificultando consensos no parlamento.
Lecornu destacou que os partidos agem como se tivessem maioria absoluta, dificultando a governabilidade, e concluiu que o país deve ser priorizado acima das disputas partidárias.