O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, ordenou à Polícia Federal que investigue citações ao líder do Governo na Câmara, José Guimarães (PT), e aos deputados cearenses Eunício Oliveira e Yury do Paredão (MDB), em uma apuração sobre desvios em emendas parlamentares destinadas a municípios no Ceará.
Os três negam envolvimento em irregularidades com essas emendas.
A determinação de Gilmar Mendes veio no contexto da Operação Underhand, iniciada na última terça-feira, 8. O foco inicial foi o deputado Júnior Mano (PSB-CE), suspeito de usar recursos dessas emendas para reforçar sua influência política na disputa das eleições de 2024, visando o controle de mais de 50 cidades cearenses.
Interceptações telefônicas apontam menções a Guimarães, Eunício e Paredão. Conforme a Polícia Federal, esses nomes aparecem em conversas com Carlos Alberto Queiroz, conhecido como Bebeto do Choró, considerado um dos principais líderes do esquema.
Bebeto do Choró foi eleito prefeito de Choró, mas teve sua posse barrada pela Justiça Eleitoral do Ceará em janeiro de 2025 e está foragido, com mandado de prisão ativo.
Nas conversas, Bebeto afirma que Eunício confirmou repasses de R$ 2 milhões feitos por Guimarães ao município e que ele indicou uma emenda de R$ 1 milhão. Também há referência a Paredão.
Embora essas citações não representem provas de corrupção, Gilmar Mendes decidiu que será preciso investigar se os parlamentares tiveram envolvimento real no uso irregular das emendas.
A origem da investigação está nas denúncias feitas pela ex-prefeita de Canindé, Rozário Ximenes. Em depoimento ao Ministério Público e entrevista em setembro de 2024, ela revelou que o grupo político de Júnior Mano utilizava empresas ligadas a Bebeto do Choró para fraudar licitações e lavar dinheiro de emendas, direcionando recursos para caixa dois e compra de votos de aliados.
Posições dos parlamentares
José Guimarães declarou que não é investigado na Operação Underhand e afirmou não ter destinado emendas parlamentares para Canindé em 2024 e 2025, conforme dados públicos do governo federal.
Por sua assessoria, Eunício Oliveira afirmou que suas emendas são dadas de forma transparente e que ainda não foi notificado sobre qualquer investigação. Ele disse ter destinado uma emenda de R$ 1 milhão para saúde em Canindé, a pedido do prefeito Jardel, mas que ela sequer foi paga e foi cancelada.
Yury do Paredão ressaltou, via assessoria, o compromisso com a transparência e a seriedade na gestão dos recursos, ressaltando que todas as informações estão disponíveis no Portal da Transparência da Câmara dos Deputados.
Rozário Ximenes afirmou que Eunício nunca recebeu propina e que cancelou a emenda ao saber do esquema, ressaltando que o problema era Júnior Mano, que cobrava retorno dos prefeitos.
Em 8 de fevereiro, Eunício enviou ofício ao ministro Alexandre Padilha solicitando suspender a destinação de R$ 1 milhão do Fundo Nacional de Saúde para os municípios de Várzea Alegre e Brejo Santo, que haviam recebido R$ 600 mil e R$ 400 mil, respectivamente.
Fonte: Estadão Conteúdo