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domingo, 21/12/2025

General absolvido em trama golpista é bolsonarista e vem da única família militar autorizada a usar barba

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, primeiro réu a ser absolvido na trama golpista, pertence a uma família tradicional do Exército, única autorizada a usar barba. Ele era considerado um dos principais apoiadores de Bolsonaro no Alto Comando e formou uma articulação com ex-chefes militares após ser denunciado ao STF (Supremo Tribunal Federal).

A Procuradoria-Geral da República (PGR) acusa que Theophilo teria aceitado “coordenar o emprego das forças terrestres” para um golpe de Estado em 2022. Na época, ele liderava o Comando de Operações Terrestres, responsável pelo preparo e uso do Exército. Embora o grupo não controle tropas, define diretrizes para operações militares.

A PGR afirma que o general concordou em apoiar militarmente o golpe durante uma reunião com Jair Bolsonaro (PL) em 9 de dezembro de 2022. Na ocasião, o presidente teria feito alterações em um decreto golpista e conversado com Theophilo.

Como prova principal, o procurador Paulo Gonet apresenta uma mensagem enviada pelo então ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, que disse a um colega: “mas ele quer fazer… Desde que o Pr [presidente] assine”.

Em delação premiada, Cid afirmou ouvir do próprio general Theophilo sobre sua adesão ao plano golpista. A defesa alega que o colaborador mentiu. O general afirmou que, na reunião, Bolsonaro expressou preocupações sobre o processo eleitoral e ele tentou acalmá-lo.

Em outro depoimento, Cid disse que O general Theophilo compartilhava do mesmo posicionamento que outro general, comentando que, se houvesse uma ordem do Alto Comando, eles agiriam, porém sem romper a legalidade, respeitando as opiniões pessoais.

Theophilo teria também dito que não assumiria o Exército se o então comandante geral, general Freire Gomes, fosse afastado, por lealdade a ele.

A inclusão do general nas denúncias mobilizou militares que integravam o Alto Comando do Exército em 2022, que consideravam que a acusação contra Theophilo se baseava em conversas de terceiros, sem provas concretas de apoio dele ao golpe.

Antes da denúncia, a defesa do general reuniu depoimentos escritos de ex-comandantes do Exército, como Freire Gomes, Julio Cesar de Arruda e o ex-chefe do Estado-Maior, Fernando Soares.

Na última terça-feira, o ministro Alexandre de Moraes, relator da trama golpista, declarou que apesar de fortes indícios da participação de Theophilo, as provas apresentadas não eram suficientes para condenação.

Os outros ministros da Primeira Turma do STF, Cristiano Zanin, Flávio Dino e Cármen Lúcia, também votaram pela absolvição do militar.

Theophilo comandou o Coter até dezembro de 2023, quando passou para a reserva. Ele é irmão do general de quatro estrelas da reserva, Guilherme Theophilo, que foi candidato a governador do Ceará pelo PSDB em 2018 e secretário nacional de Segurança Pública durante a gestão de Sergio Moro no Ministério da Justiça.

Família e a tradição da barba

A família Theophilo tem longa história no meio militar desde Manoel Theophilo (1849-1894) e é a única do Exército autorizada a usar barba.

O uso da barba foi proibido no Exército a partir do final da década de 1920, quando uma comissão francesa foi contratada para modernizar a força militar brasileira.

Como a barba era uma tradição familiar, um dos integrantes, o quarto Manoel Theophilo, formalizou um pedido à alta cúpula militar em 1982 para uma exceção.

Foi aberto um inquérito para verificar essa tradição: foram solicitadas fotos, pinturas e diversos registros para comprovar que a barba era uma marca de cinco gerações da família.

O então ministro do Exército, general Walter Pires de Carvalho e Albuquerque, deferiu o pedido de uso da barba em caráter excepcional, conforme publicado no Boletim do Exército em 22 de março de 1982.

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