DANIELLE CASTRO
RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS)
Durante o Natal, é comum ganhar peso, muitas vezes até 1 kg, e esse aumento pode se acumular com o tempo, sendo difícil de perder na vida adulta.
Chamado de “efeito escada”, esse peso extra pode demorar até cinco meses para desaparecer, e frequentemente acaba ficando, como vários estudos ao redor do mundo mostram.
“Esse excesso raramente desaparece nos meses seguintes, acumulando-se aos poucos e contribuindo para a obesidade ao longo dos anos”, explica o endocrinologista Renato Zilli, do Hospital Sírio-Libanês.
Pesquisadores mexicanos apontam que o adulto ganha, em média, entre 0,37 kg e 0,9 kg no fim do ano. A pesquisa analisou 15 estudos com pessoas do hemisfério norte e mostrou que quem já está acima do peso tende a engordar mais.
“As festas parecem fazer as pessoas ganharem peso, mesmo aquelas tentando emagrecer ou que se monitoram”, afirmam os autores no Journal of Obesity (2017).
Um estudo nos EUA, publicado no New England Journal of Medicine (NEJM), mostrou que mesmo pequenos ganhos de peso durante as ceias não são recuperados depois, fazendo com que o peso aumente continuamente ao longo da vida.
Esse fenômeno não é só cultural: dados de 3 mil pessoas em três países diferentes confirmaram que o ganho de peso nas festas é real e comum, com picos nos EUA (Ação de Graças e Natal), Alemanha (Natal e Páscoa) e Japão (Golden Week e Natal). A perda do peso consumido pode levar cerca de cinco meses.
Por que isso acontece?
O aumento das reuniões sociais, a preparação de comidas mais calóricas e a diminuição da atividade física são as principais causas do ganho de peso no fim do ano, segundo os pesquisadores mexicanos.
Luís Fernando Correia, clínico geral e diretor médico do Centro Valsa de Reabilitação, alerta para a necessidade de moderação: “Comer o que gosta não significa comer demais. É importante controlar para não exagerar só para agradar a outros”.
O que fazer para evitar?
Controlar a quantidade de comida e tomar cuidado com a alimentação ajuda a manter o peso. Também é importante buscar apoio de nutricionistas, nutrólogos e educadores físicos, pois cada pessoa é diferente.
Um estudo no Reino Unido, em 2025, investigou jovens universitários e mostrou que o peso ganho após as festas (até 0,74 kg) era maiormente massa muscular, não gordura.
Outro estudo britânico, de 2018, mostrou que quem se pesava regularmente e recebia dicas práticas mantinha o peso durante as festas ou até perdia um pouco, enquanto outros ganhavam em média 0,37 kg.
Renato Zilli afirma que comer com atenção pode reduzir a ingestão de calorias em até 30%. Além disso, evitar jejuns longos e ter uma boa noite de sono é essencial para evitar compulsão alimentar.
Conforme a endocrinologista Verônica El Afiouni, evitar pular refeições é fundamental para não desequilibrar os hormônios da fome e saciedade. Quando o corpo sente falta de comida, ele aumenta a sensação de fome, o que pode levar a exageros nas festas.
Comer muito depois ficar longos períodos sem comer também pode causar picos de insulina e cortisol, facilitando o acúmulo de gordura. Ela recomenda manter uma alimentação regular, hidratar-se bem e intercalar bebidas alcoólicas com água para controlar as calorias consumidas.
Verônica El Afiouni lembra que uma ceia típica pode ter até 1.000 calorias, quase metade das necessidades diárias de um adulto. Para gastar essa energia, uma pessoa de 70 kg precisaria caminhar por cerca de três horas ou correr por 1h30, o que nem sempre é viável.
Durante as festas, é importante praticar a alimentação consciente: serva-se porções menores, mastigue devagar, valorize proteínas e vegetais e preste atenção na sensação de saciedade.
Luís Fernando Correia aconselha sentar longe da mesa para evitar tentações, usar pratos menores e manter os remédios controlados mesmo se consumir álcool. “O mais importante é seguir com as atividades físicas e pesar-se regularmente para manter a saúde em dia”, finaliza.

