O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta quinta-feira (26) que as projeções do Banco Central levam em conta dados do relatório Focus, incluindo a curva de juros. Ele reforçou que o objetivo principal da autoridade monetária é atingir o centro da meta de inflação.
“Há diferentes maneiras de atingir o centro da meta, que é o foco principal. Estamos totalmente comprometidos com esse objetivo. Acho que nossas ações são evidentes, considerando a intensidade dos ajustes restritivos na política monetária realizados nos últimos meses”, declarou Galípolo, durante coletiva para comentar o Relatório de Política Monetária (RPM) do segundo trimestre.
Galípolo explicou que, ao comunicar que os efeitos da política monetária restritiva ainda estão por vir, o Banco Central está apenas relatando um fato.
Ele destacou a importância de manter uma posição “agnóstica e transparente” sobre o que a autoridade pode prever. “Os juros que a economia sente hoje não correspondem ao patamar atual da Selic, devido às defasagens e à velocidade das mudanças. Isso justifica uma pausa no ciclo de aperto para analisar se o nível de juros atualmente é suficientemente restritivo”, acrescentou.
Balanço de riscos
Questionado sobre se o balanço de riscos para a inflação está equilibrado, Galípolo evitou dar uma resposta definitiva, explicando que essa estratégia busca eliminar interpretações mecânicas sobre como os riscos podem influenciar a política monetária.
O Banco Central deixou de classificar o balanço de riscos como “assimétrico para cima” em maio, quando passou a identificar três riscos para baixo e três para cima. No entanto, a autarquia não considera o balanço simétrico, ressaltando que os extremos do balanço aumentaram.
“É importante avaliar o peso e a probabilidade de cada risco individualmente. Por isso, usamos termos como ‘mais assimétrico’ ou ‘menos assimétrico’, evitando interpretações mecânicas”, explicou Galípolo.
O diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, também presente na coletiva, comentou que o mais relevante é o aumento dos riscos em ambas as direções.
Diálogo com o ministério
Galípolo destacou a frequência com que conversa com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e manifestou apoio às decisões recentes do Comitê de Política Monetária (Copom).
Recentemente, Haddad afirmou que o ciclo de alta da Selic, que chegou a 15% ao ano após último reajuste de 0,25 ponto percentual, foi iniciado pelo antecessor de Galípolo, Roberto Campos Neto, nomeado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Galípolo explicou que mantém diálogo constante com o ministro e que isso se reflete no alinhamento das ações e entendimentos entre eles.
Ele também comentou sobre a reunião de dezembro, quando Campos Neto ainda presidia o BC e Galípolo estava indicado como sucessor. Na ocasião, foram definidas altas graduais da Selic. Galípolo ressaltou o gesto de generosidade de Campos Neto ao permitir que ele desempenhasse papel de destaque durante a transição.
Estimativas econômicas
Galípolo reiterou que o Banco Central evita mudanças frequentes em estimativas econômicas para não gerar volatilidade nos mercados, respondendo a questionamento sobre o hiato do produto.
Ele destacou que, nos últimos quatro anos, houve surpresas positivas sistemáticas em relação ao crescimento do PIB, devido a fatores como boas safras agrícolas e estímulos ao consumo. Apesar disso, reconheceu que ainda há desafios para identificar ganhos claros de produtividade além do setor agropecuário.