ANDRÉ BORGES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Fundo Amazônia, criado para apoiar iniciativas nacionais e internacionais voltadas à conservação e ao uso sustentável das florestas, atingiu um volume recorde de financiamentos aprovados no primeiro semestre de 2025.
Foram autorizados investimentos que totalizam R$ 1,19 bilhão nesse período, superando o montante anual registrado desde a fundação do fundo, em 2009.
O melhor resultado anterior havia sido em 2024, com aprovações de R$ 947 milhões corrigidos pela inflação. Em 2023, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), órgão responsável pela gestão do fundo, liberou R$ 584 milhões após quatro anos de interrupção durante o governo Bolsonaro (PL).
Os dados foram anunciados nesta segunda-feira (16), em Brasília, pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. O evento contou com a presença da diretora socioambiental do BNDES, Tereza Campello, do secretário-executivo do MMA, João Paulo Capobianco, além de representantes de oito ministérios, dos nove estados da Amazônia Legal e de organizações da sociedade civil do comitê orientador e doadores do fundo.
Depois do período de paralisação entre 2019 e 2022, o fundo retomou suas operações e já aprovou R$ 5,6 bilhões em projetos até junho de 2025, dos quais R$ 2,7 bilhões já foram efetivamente liberados.
Entre 2023 e 2025, o fundo recebeu novas contribuições de vários países e organizações multilaterais. A Noruega, maior doadora, destinou R$ 349 milhões; o Reino Unido, R$ 255 milhões; e a União Europeia, R$ 121 milhões. Outros doadores incluem Dinamarca, Japão, Suíça, Estados Unidos e Alemanha.
Em março, a Irlanda fez sua primeira doação, de 15 milhões de euros, equivalentes a R$ 91 milhões.
O total das novas doações anunciadas chega a R$ 1,5 bilhão, sendo que R$ 1,1 bilhão já está disponível no Brasil. Foram aprovados 133 projetos que concentram esforços em unidades de conservação, terras indígenas, quilombolas e assentamentos.
Um dos principais projetos aprovados recentemente, com investimento de R$ 825,7 milhões, visa a modernização da fiscalização ambiental do Ibama, com o uso intensivo de tecnologia e reforço logístico para combater o desmatamento ilegal.
O BNDES, como gestor do fundo, firma contratos de apoio financeiro não reembolsável baseados nos critérios estabelecidos pelo comitê orientador. As doações são provenientes de países e organizações multilaterais e não acarretam obrigações financeiras para os beneficiários brasileiros, apenas a necessidade de prestação de contas e demonstração de resultados mensuráveis.
Entenda como funciona o Fundo Amazônia
Destino dos recursos
O objetivo do fundo é captar recursos para projetos de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, além de ações de conservação e uso sustentável da floresta amazônica, permitindo que até 20% dos recursos sejam aplicados em outros biomas.
Quem pode receber
Projetos são apresentados por governos federal e estaduais, organizações sem fins lucrativos, instituições multilaterais e empresas.
Gestão
O Fundo é gerido pelo BNDES em conjunto com dois comitês: o técnico, responsável por certificar dados e cálculos de emissões, e o orientador, formado por membros da sociedade civil que definem critérios para aplicação dos recursos.
Mecanismo REDD
O fundo opera conforme os parâmetros do REDD (Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação), mecanismo desenvolvido pelo Brasil na Conferência do Clima da ONU em 2006. O Fundo Amazônia se tornou referência global na definição das salvaguardas do mecanismo REDD.
Abordagem diplomática
O fundo busca garantir a confiança dos doadores na boa aplicação dos recursos e financiar a conservação das florestas sem gerar créditos de carbono vendidos. As reduções nas emissões de carbono contabilizadas pelo Fundo Amazônia são incluídas nas metas brasileiras do Acordo de Paris e não são comercializadas como compensações para os doadores.