Primeiro delator no caso do Mensalão, o operador financeiro Lúcio Funaro disse em depoimento, nesta terça-feira (31/10), que omitiu informações em 2005 para poupar o mandato do então deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Funaro ainda revelou que Cunha sabia, desde o primeiro momento, do acordo firmado por ele com o Ministério Público Federal e “tinha medo” que Funaro “explodisse” durante a CPI dos Correios.
O operador deu detalhes da primeira colaboração no âmbito da ação penal da qual é réu, na 10ª Vara Federal do DF, ao lado do ex-presidente da Câmara e de outras três pessoas. Eles são acusados de participar de um esquema para liberação de recursos do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FI-FGTS), administrado pela Caixa Econômica Federal.
Durante o interrogatório, Funaro afirmou que Cunha sabia “desde o primeiro dia” que ele iria fechar delação premiada com o MPF. Segundo o operador, uma noite antes de depor na CPI dos Correios o então deputado foi à casa de um amigo de Funaro. O então deputado federal estava acompanhado de advogados que o auxiliaram no acordo. No encontro, o grupo discutiu como seriam as declarações de Funaro à comissão.
“Ele [Eduardo Cunha] ficou louco porque o ministro Joaquim Barbosa [à época, relator do Mensalão no Supremo Tribunal Federal] não tinha dado HC [habeas corpus] para que eu permanecesse em silêncio durante o depoimento. E ele tinha medo que eu explodisse durante a oitiva”, contou. Em outro momento, antes da revelação, Funaro admitiu ter um temperamento difícil: “Sou uma pessoa de pavio curto.”
Veja trecho do depoimento:
Mão de ferro
Ainda na audiência, Lúcio Funaro chegou a rebater acusações de que teria furtado anexos da proposta de delação de Eduardo Cunha dentro da Procuradoria-Geral da República. “Isso aí só pode passar na cabeça de uma pessoa que tem apoteose mental”, criticou, exasperado.
Sobre o acordo de colaboração premiada, o delator disse que resolveu “ceder” porque prefere “não ter nada e ter paz, do que ter tudo e não ter paz”.
Detector de mentiras
No fim do depoimento, Funaro lançou uma provocação a Cunha. O operador pediu ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, que conduzia a audiência, para submetê-lo a um teste de polígrafo, com o objetivo de provar que não seria “mentiroso”.
“Se quiser me colocar em um polígrafo para fazer um teste, eu e o deputado Eduardo Cunha, estou à disposição. Porque parece que, toda vez que acaba uma audiência, ele sai daqui e fala que eu sou um mentiroso”, falou.