A França iniciou uma nova fase no combate ao crime organizado ao inaugurar um presídio de alta segurança no centro penal de Vendin-le-Vieil, localizada no norte do país. A unidade foi amplamente reformada com o objetivo de enfraquecer as redes do narcotráfico, isolando os criminosos mais perigosos do país.
Um total de 17 presos, considerados os líderes mais ameaçadores do tráfico, foram transferidos para este local na terça-feira (22/7), sinalizando o começo de uma estratégia rigorosa para controlar essas figuras após suas condenações. Inspirado por sistemas internacionais bem-sucedidos no enfrentamento da máfia, o governo francês implementou medidas severas para impedir a comunicação externa desses detentos.
O ministro da Justiça, Gérald Darmanin, explicou que o grupo inicial compreende 100 narcotraficantes classificados como extremamente perigosos. A transferência foi feita com grande aparato de segurança, com sete caminhões escoltados por policiais, e transcorreu sem ocorrências.
Para garantir o isolamento total, foram instalados bloqueadores de sinal que impedem o uso de celulares e drones, eliminando comunicações ilegais. As chamadas telefônicas com familiares e advogados são limitadas a duas semanalmente e monitoradas em tempo real. Visitas presenciais acontecem em salas com vidros blindados e intercomunicadores, evitando qualquer contato físico.
Além disso, as unidades de convivência familiar foram eliminadas para estes presos, e os controles diários aumentaram, com revistas após qualquer contato com o exterior, pátios cimentados, e movimentação individual constante sob vigilância intensificada.
Cada cela possui 12 metros quadrados com grades duplas e barras adicionais nas janelas, portais tecnológicos para detectar objetos e trancas que permitem algemar os presos antes da abertura das portas. Cerca de 450 câmeras monitoram as instalações permanentemente. O efetivo de agentes foi ampliado, numa proporção de cerca de 2,5 agentes para cada detento.
Os funcionários circulam em grupos de três e não usam crachás identificadores para evitar represálias. Essas medidas, inspiradas em modelos italianos anti-máfia, visam cortar totalmente as ligações entre os chefes do crime e suas organizações externas.
Apesar dos avanços, a iniciativa recebeu críticas de advogados e do Sindicato da Magistratura, especialmente quanto à transparência na seleção dos presos e à limitação da defesa para contestar as transferências. A advogada Sophie Rey-Gascon relatou casos em que presos foram submetidos ao regime sem que suas condenações envolvessem tráfico.
O uso das chamadas “celas de alta segurança” é também contestado, já que foram abolidas na França há mais de 40 anos por sua ineficácia e impacto negativo nos presos.
O presídio já abriga criminosos conhecidos como Salah Abdeslam, condenado pela participação nos ataques terroristas em Paris em 2015, e Rédoine Faïd, famoso por fugas espetaculares. O narcotraficante Mohamed Amra, envolvido em uma fuga violenta que resultou em mortes, deverá ser transferido em breve.
A previsão é que cerca de 60 presos estejam sob este regime até o final de julho, chegando a 100 até setembro. Um segundo setor de segurança máxima deverá ser aberto até outubro na prisão de Condé-sur-Sarthe, na região oeste da França.