Financiamento nos países em desenvolvimento é considerado fundamental para o enfrentamento da emergência climática. Para a diplomacia brasileira, nações são afetadas em sequência quando há desastres naturais
Baku (Azerbaijão) — Representantes de quase uma centena de países estão reunidos em Baku, capital do Azerbaijão, na busca de consensos que possam ser aprovados na próxima Conferência do Clima das Nações Unidas (COP29), em novembro, no país asiático. A reunião preliminar foi aberta, ontem, com uma mensagem do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, lida pelo presidente designado da COP29, Mukhtar Babayev. No documento, um apelo para que todos “se envolvam de forma construtiva e de boa fé em prol da humanidade”.
Não são poucos os desafios. A Pré-COP29 vai se dedicar à construção de um documento que possa servir de base para a conferência de novembro, que contará com chefes de Estado e de governo de todo o planeta. A principal questão é o financiamento da transição energética dos países em desenvolvimento, considerada fundamental para o enfrentamento da emergência climática.
O problema ganhou contornos dramáticos neste ano, com eventos extremos assolando vários países. As enchentes no Sul do Brasil, a seca histórica da Amazônia e a fúria do furacão Milton foram citadas como exemplo de que não há tempo a perder.
Para o Brasil, representado pelo secretário de Clima, Energia e Meio Ambientes do Ministério das Relações Exteriores (MRE), André Corrêa, a reunião precisa encontrar soluções que sejam pactuadas por toda a comunidade internacional. Como anfitrião da próxima Conferência do Clima, em 2025, em Belém, o Brasil trouxe a Baku “uma posição muito clara” no sentido de que é preciso deixar interesses individuais de lado na busca de soluções objetivas.
“A questão das mudanças climáticas nos obriga a pensar em uma ação muito mais global, porque o que acontece em um país, tem impacto no outro”, alertou Corrêa, em entrevista ao Correio.
O acordo que se busca pode viabilizar o financiamento de ações de mitigação, adaptação e de apoio aos países mais vulneráveis aos eventos climáticos extremos, como as nações insulares do Pacífico — que correm o risco de desaparecer com o aumento do nível dos oceanos. Entre as medidas de curto prazo que estão sendo negociadas, estão a regularização em âmbito global do mercado de carbono e o aumento da contribuição dos países ricos aos fundos multilaterais de financiamento de ações de enfrentamento das mudanças climáticas.
Brasil e Azerbaijão são grandes produtores de combustíveis fósseis e defendem o uso do dinheiro do petróleo para bancar parte dos investimentos necessários da transição para uma economia de baixo carbono. O Brasil, porém, mantém a posição de que esses recursos também sejam usados no combate às desigualdades sociais. Por isso, cobra mais engajamento dos países desenvolvidos. (O repórter viajou a Baku a convite da COP29)